Longe, longe, longe

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Quando calei? Não sei. E quando se cala é sempre tempo exagerado, o do silêncio. Talvez seja a maior ausência de todas, essa auto companhia que os calados fazem a si mesmos. Nada vi no mundo do nada dito. Então, sem a graça das coisas ditas, escritas, lembradas ou esquecidas, também não ouvi um sorriso, um olhar apaixonado ou um quadro digno do nada tão detalhadamente construído. Não existe um grupo, um “nós, os quietos”. Somos eu quieto, tu quieto, ele quieto, não me torno algo a partir de alguém. Sou necessariamente o que escrevo ou falo, mas essencialmente existo no calado de um navio e sua quilha, fugindo das armadilhas escondidas nas correntezas. Quando calei? Eu é que sei? Me digam os cadernos G, os sertanejos universitários, os grupos de pagode, os prá frente, Brasil. Enchi meus pulmões de um ar silente. Ando calado, é verdade. Meu silêncio é fagulha atenta. Onde pega, queima. Onde queima, arde.

Publicado por

Mariel

Vale o que está escrito

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