Quanto caminhei, não sei. Mas entendi a solidão dos perdidos, a canção dos aflitos, o silêncio dos espíritos, o amor viria. Quanto calei, como dizer? O que vi me contradisse, o que jurei me aprisionou, ignorei o conhecido. Consolei os crentes da esperança alheia, desfraldei bandeiras denunciando abusos, socorri marujos desorientados, o amor sabia. Em cada alvoroço, em cada canelada, nos momentos de vida seca ou de alma lavada, desconheci o medo, cantei na chuva, ignorei alertas, refiz atalhos e ganhei alguns calos. Fui apontado, voltei de mãos vazias, perdi trens, desci ladeiras, descobri abismos, em todo caminho sabia, o amor queria. Duvidei de crenças, desfiz dos deuses, desdenhei da fé e suas montanhas removidas. Tive dores no peito, o amor resistiria. Caminhei descalço, pisei em falso, comi de tudo, falei em linguas, me contradisse o tempo todo, estive pronto para ir e fiquei. Me comovi, revi gente, planejei resgates, senti saudades, escovei os dentes, escrevi histórias, revirei na cama, suei um pouco, enfrentei o frio, o amor tremia. Então, um dia, fui para sempre o que sempre seria caso houvesse espaço, e havia. É um pássaro essa vida toda. E pia, voa, assobia. Tem canções cheias de semi tons, momentos extremos, dissonâncias, alternâncias, milhares de sinfonias, vão te acordar quando for o tempo do amor que há.
4 comentários em “Vida passarinha”
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Vc deveria compor uma música par O Teatro Mágico! hahaha
beijoos
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Minhas músicas são amadoras demais pra eles. Mas o ideia é boa
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O que mais dizer?
“estive pronto pra ir e fiquei”
Lendo um de seus textos a cada dia,vou me encontrando e tendo a sensação de já ter escrito ou pensado em escrever algo parecido! Plágio de alma, eu acho! rs
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As almas é que copiam da vida, Aurea. E Deus nem exige direito autoral. Cadê seus novos textos?
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