Gentes

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Toda pessoa me interessa, o gesto, o gosto e por quem seus sinos dobram. Pessoas são boas, algumas estão obras incompletas: vivem em curvas, sonhando com linhas retas.  Algumas são vestidos, se trocam, se gastam, esvoaçam pela vida, saem de moda, viram tendência ou panos de prato. Há dúzias de carros, centenas de Camaros, milhares de fusquetas, conheço duas ou três que são lambretas. Pessoas me deixam curioso sobre o rumo que tomam e o porque daquilo, o motivo sempre me intriga. Quando se toma a decisão entre ser leão ou viver formiga? Algumas, aos poucos, vão lentamente se afastando de si mesmas, essas me entristecem. Essas desamanhecem, o olho escurece, ficam enlutadas e submergem no silêncio das almas caladas. Corri esse risco, quase morri. Quem me salvou me salvou por amar uma vida que se ia, até que amanheci um dia , mas  ainda não agradeci, pelo menos não como devia. Pessoas são fundamentais, mesmo que eu esteja cada dia mais em dúvida sobre o pra que. O fato certo é que precisamos uns dos outros ou ficamos loucos, ciumentos e cheios de certezas. O que nos salva é a existência de tudo o que nos é  favorável e de todos que nos sãos contrários. É dessa fluxo que surge gente e gente ainda é a melhor saída, a grande chance de encontrarmos vida nos planetas que somos e nessa ilha que navega espaço à fora. Chatas, gordas, altas, cariocas, emergentes. Lindas, tolas, iradas, urgentes. Ainda temos tempo de curar as nossas chagas e de colocar na Terra uma grande placa: Tem Gente, mas há vagas.

Publicado por

Mariel

Vale o que está escrito

16 comentários em “Gentes”

  1. Você tem seu conteúdo, tem sua sensibilidade, e tem — com certeza — sua sensualidade.

    Poderia ser a Anaïs Nin dos blogues.

    Para isso, terá apenas que escrever, reescrever, cortar, recortar, jogar fora muita coisa, mas depois ter que procurar na cesta de lixo o que não deveria ter jogado fora. 8-)

    Igualzinho a todos outros grandes blogueiros e blogueiras, todos grande escritores e escritoras, todos poetas e todas poetas.

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    1. Nossa, Anais Nin então. Como ela mesmo disse, “não vemos as coisas como elas são. Vemos como nós somos”. Viu? Você é gentil, super valeu, mesmo, mesmo, mesmo.

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      1. Em primeiro lugar, somos um grupo de 5 pessoas. Duas delas poderiam ser seus primos, primos, pois também têm sobrenome Fernandes. 8-)

        Em segundo lugar, nunca confie em nenhuma autoria que a Internet sugere. Fora pouquíssimos portais mais sérios, em geral as pessoas inventam alguma coisa e transferem a autoria para algum nome respeitado. 8-)

        Não somos especialistas em Anais Nïn, mas ela trabalhou, nos diários dela, com a técnica (chamada fluxo de consciência) que você usou.

        Ela também se interessava muito por relacionamentos — igualzinho seu texto.

        Mas veja um ponto importante: ela era muito próxima (pessoalmente e em ideologia) de um autor americano, chamado Henry Miller. Que fazia seus livros praticamente sem rever, sem reescrever.

        Já a señorita Nin (era de España) era bem mais cuidadosa com seus textos.

        Adivinhe quem escrevia melhor. 8-)

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        1. Bom, então muito prazer, aos 5. Os dois fernandes, oi possíveis primos. O pensamento é dos bons, fala sobre, bem vocês sabem sobre o que o autor quis dizer. Ela e Henry Miller se gostavam, digamos, bastante. Confesso que me acho parecido com ele, na questão do método: procuro não revisar ou reescrever, o que no caso de crônicas (que é do que vivo) é menos mortal. Conhecia a expressão Fluxo de Consciência e algo sobre, mas ligado à psicologia. O processo (pelo menos o meu) que vocês descrevem é bem esse mesmo. Pra terminar, por hora, digo que o blog de vocês é ótimo. E podem colocar meu nome na afirmação. Super abraço.

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      2. Desculpe-nos voltar ao assunto: seus abraços pareciam um pedido de final dele, mas achamos que há 3 coisas a comentar.

        1. O pensamento não parece ser de Anaïs Nin: não achamos nada com certeza que associasse a ela. Um de nós lembrou vagamente de vê-lo associado a outra pessoa. Mas onde ? Vamos procurar, no mínimo, para rever Anaïs Nin, rever sua importância. Com todo cuidado que ela merece.

        2. Sua ideia de escrever e não reescrever, é semelhante à proposta do pessoal do pós-surrealismo, que comparava escrever com o solo dos músicos de jazz.

        Mas, pense bem: um instrumentista de jazz estuda muito, muito mesmo, antes de sair improvisando com sucesso: ele precisa dominar sua técnica, conhecer seu instrumento e ter um grande acervo de melodias e acordes em sua cabeça.

        Um professor que dois de nós tivemos resumia isso dizendo que o improviso de Duke Ellington (grande pianista e músico em muitos sentidos) é diferente do improviso de um aprendiz de piano.

        Do mesmo jeito, você (e todo escritor) precisa ter muita consciência do que escreve. É preciso saber o papel de cada palavra. Tanto em termos de som, de ritmo, de melodia mesmo do texto, como de significado. É preciso experimentar palavras, para ver qual funciona melhor, qual diz o que você gostaria de dizer. Ou, até, qual diz algo inesperado, porém melhor do que o imaginado.

        Enfim, você precisa compor um texto como se fosse uma melodia. Já bastante gente reblogou seu texto. Com certeza muitos mais leriam um texto que somasse o acabamento ao sentimento geral. Assim, como uma canção bem acaba trabalhada dura mais do que uma parada de sucesso.

        3. Ainda mais uma razão para você trabalhar seus textos é que este parece seu manifesto a respeito de relacionamentos.

        Você talvez tenha lido, mas Anaïs Nin tinha um manifesto similar, bem argumentado, onde propunha, em poucas palavras, o relacionamento aberto.

        A escrita e reescrita, com atenção e cuidado, seria legal para você, e talvez para quem se aproximasse de você, uma clareza similar de intenção e pensamento.

        Isto é importante, por exemplo, para evitar mágoas e mal entendidos de parte a parte.

        Desculpe-nos ter escrito tanto, mas justamente estamos discutindo internamente a questões do modo de trabalhar um texto. Devem sair várias postagens sobre isso em nosso blogue.

        Obrigado !

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        1. O super abraço era isso, um super abraço, não um pedido em qualquer direção. Também já vi associado a outro autor (bom, mas não lembro qual) o tal pensamento. Seja como e de quem for, há uma verdade grande ali, produto escasso nas estantes relacionais. O “Gentes” foi escrito com cuido, reflete o que penso sobre determinados aspectos da vivência. Talvez ele não tenha a qualidade que levasse vocês a uma apreciação mais positiva, mas coloquem isso na conta da minha falta de talento pra coisa. Acredito na excelência, na qualidade, acho que um texto diz tudo sobre uma pessoa, está tudo ali, inclusive seus erros, caminhos, crenças, mágoas ou alegrias, encontros, mágoas e mail entendidos, viver é isso, exige muita atenção, treino, consciência, métrica, pulso, ritmo e alguns gosl do Inter. Escrever é exato o mesmo. Vou trabalhar meus textos e faço isso do seguinte modo, vejam se acham bom: vivo. Depois, escrevo.
          Vocês não falaram muito, nem escreveram em excesso, me colocaram a pensar, o que é importante para quem escreve. Vou acompanhar as postagens sobre o ato de escrever bem. Talvez aprenda, hum?
          Super abraços de novo.

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      3. Olá ! Quem escreve aqui é um de seus primos. 8-)

        Quero dizer que meu sobrenome também é Fernandes. Por enquanto, meu nome será apenas Primo 1, pois há um outro Fernandes em nosso grupo.

        Você tem a sensibilidade para a palavra e, se prestar atenção, vai identificar cada um de nós muito facilmente: os estilos de cada um de nós são bem diferentes.

        Uma vez que você é uma bebedora de chimarrão, que pertence ao time dos maragatos e usa lenço vermelho, deve conhecer Curitiba. E, portanto, o Vampiro de Curitiba, Dalton Trevisan. Talvez o maior contista do Brasil.

        O método dele escrever é parecido com o seu: ele pega fragmentos da vida — cheios de emoções intensas — e os escreve sem pensar muito.

        Mas aí ele deixa o texto esquecido.Depois, quando a emoção mais forte tiver passado, ele retorna ao texto. Nesta hora, o que ele quer é fazer com que o leitor, que não participou da mesma emoção, possa conhecer a verdade e beleza dela.

        Assim, trata-se de clareza, de viver emoções e passá-las pela linguagem. Afinal, as pessoas se comunicam pela linguagem — certo ?

        E a clareza é ainda mais importante no seu manifesto. Você justamente deve se manifestar — portanto escrever com muita clareza.

        Veja que machucar os outros por falta de clareza é sempre machucar. Não importa se causamos ou sofremos o machucado, se perdoamos ou se nos perdoaram: uma maldade é sempre uma maldade.

        Em algum texto religioso se fala em pagar até o último ceitil. Você lembra ?

        Enfim, aproveite que você tem a verdade da emoção, para você, e torne-a verdade literária, para os outros.

        Agradecemos sua paciência em dose quíntupla. 8-)

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        1. Isso está ficando divertido, primo 1. Acho que não me expressei bem, pelo menos vocês estão me convencendo disso. Na verdade, escrever me acalma, mas penso muito antes de ir aos textos. Ainda não entendi muito a referência sobre machucaduras, mas não acredito em pecado ou perdão, muito menos em pagamentos bíblicos. Como diria o Neruda, confesso que vivi, estive, procurei, acertei e fracassei milhares de vezes. Se numa dessas criei desavenças, espero poder fazer parte das cicatrizes. No fim, rimando um pouco, todos seremos felizes. Não preciso ter paciência: vocês são ótimos. Abraços do primo

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      4. Olá !

        Apenas eu e seu outro primo Fernandes é que gostamos do Neruda no grupo. E não localizamos o Confesso que vivi em nossas casas:

        Tentamos em vão nos lembrar de detalhes, mas nossa impressão é que o livro que você leu não é o mesmo que nós lemos. Apesar dos dois terem o mesmo nome e o mesmo autor. 8-)

        A respeito de religião,você não deve esquecer que ela inicialmente foi onde se consolidaram todas sabedorias da espécie humana: ética, moral, direito, medicina e até mesmo culinária. Depois, alguns saberers sairam da religião e se especializou.

        Mas as melhores religiões têm pelo menos um pouco desta sabedoria. O que os ateus, se forem sábios, devem reconhecer. E não jogar a criança junto com a água da bacia. 8-)

        Isto é; deve-se respeitar os saberes que há em algumas religiões, mesmo que não se aceite a visão de mundo metafísica: existência de espíritos imateriais, vida depois da morte etc.

        Por exemplo, aquela frase “amar o próximo como a si mesmo” resume duas coisas que estão no “hardware” humano: autopreservação e preservação da espécie.

        Isso é biológico: mesmo os psicopatas sabem quanto estão indo contra uma coisa ou outra. Ou, pelo menos aqueles com psicopatia mais leve ficam constrangidos quando se lhes aponta o que fizeram de errado.

        Foi um filósofo agnóstico, Bertrand Russell, que lançou essa ideia, de que todo mundo sabe o que é certo e errado, do mesmo jeito que sabe o que é frio ou quente.

        Bom, mas a gente veio aqui para falar de literatura: você gostou de saber sobre o método do Dalton Trevisan para escrever? Você sabia que já usa grande parte do método dele?

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        1. Lemos Nerudas diferentes, ora vejam. Mas para a segurança emocional de todos, me referia justo ao título do livro, também ele um texto, confere? Conheço pouco sobre psicopatias e não lembro de ter sido apresentado a um psicopata, mesmo os de compretimento mais leve e pretendo permanecer assim, que a vida é curta. Também não sei do Bertrand Russell, em compensação conheço toda a escalação do Inter, trocamos? Gostei de saber do método do Dalton (a intimidade é só aparente) e olha só: não sabia que usava nem que o método era do cara, será que dá rolo? De qualquer jeito, posso escrever imitando o Veríssimo, Ernest, a Lya, o Lula (não escrevendo nada), o Roberto Pompeu de Toleto e você (juro) não perceberia a diferença. Sei, não é uma vantagem. Mas ter um carro também não é e todo mundo é afim. Super abraço, extensivo aos primos.

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      5. Olá ! Paramos de discutir porque cansamos de apanhar de sua argumentação. 8-)

        Você usa Twitter ? Lá, ficarão menos feias nossas derrotas para seu poder de argumentação obviamente superior. 8-)

        Estamos lá em @musicaefantasia.Se puder, mande uma mensagem, para que a gente possa seguir seus tuítes.

        Bom final de semana.

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        1. Ah não. Eu não bati em ninguém e confesso que estava impressionado com a capacidade de vocês, literalmente, lerem um texto, no sentido de capta-lo, o fato de discutirmos me honra, de verdade. Meu poder de argumentação? Eu lá tenho isso, gente? De verdade, não quis de jeito nenhum chatear ninguém. Meu tuite, @marielfernandes. Vou acompanhar o de vocês.
          Super fim de semana, extensivo aos primos.

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  2. Gente precisa de gente… de ar… de água… de terra… de fogo… Pra respirar e viver.,, Pra que mesmo? Sei lá, não tenho certeza ainda. Adorei seu texto. Bjs

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