Certos silêncios

silencioDiscursos são exuberantes. Eles e suas metáforas, lições, fábulas, escalas, estrofes e citações. Explicam, ponderam, transmitem, transformam. Há pra todo tipo de ambiente, circunstância ou gente. Mas alto lá, há muito dizquedizque, muito tititizmos, achistas de plantão, uma multidão teclando, blablazando, desconectados em rede. Quem ainda não reparou esse flerte entre o discurso e o falsete? Há uma intensa troca de olhares, mudanças de senhas, sinais codificados, claquetes profissionais, um acordo do clube dos perfeitos. Discursos e discursantes mantém verdades a uma boa distância porque isso mantém um mundo onde a harmonia se baseia na dissonância. Disfarçadas de eloquências, exiladas no país dos desmentidos, letras mortas, esquecidas em conversas sem tradução. Desmentidas, as palavras nos tornaram distantes, almas malditas e esquecidas do bendito que é o entendimento que proporcionam. E foi então que cada letra silenciada tornou-se um hino, um som, um sentimento, o descobrimento que viver são pontos de exclamação. Vivo descrevendo o dia da tua volta, palavra. Entre tantos, destaco. Entretanto, desacato. Palavra, pra mim, é lavra. Entre as safras, planto o muito que já passou. Te mantinham apartada de ti, palavra. Não está mais aqui quem falou.

Publicado por

Mariel

Vale o que está escrito

93 comentários em “Certos silêncios”

  1. Surpreendente como sempre, você manuseia as palavras como um pintor colore a tela dando forma e significado as cores…
    Elogios à parte, este mundo dos discursos e discursantes é um mundo paralelo, onde se fala o que se que e se entende como se deseja. Eu vejo a palavra como uma verbalização do que se é, pois se não é, no mundo real, é em imaginação. Se tivéssemos noção do quanto a palavra significa a vida, como signo, mas, também como significado do que somos, deixariamos que “Certos silêncios” tomasse o lugar dos discursos vazios e falsos.

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    1. Jettro, primeiro uma semi bronca: cadê teus textos, querido? O último faz um tempão… O meu truque para escrever é copiar o que vejo, amigo. A palavra como expressão do que se é, essa está voltando, como vejo e descrevo. Vamos ficar atentos, prontos e em certos silêncios mostrar o verbo que cria a realidade que desejamos. Super abraço.

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  2. Interessante, não é? Há uma profusão de discursos pra lá de eloquentes na rede, alguns mais (des)equilibrados que outros, alguns mais descarados que outros, mas até esses julgamentos dependem do ponto de vista de quem os lê e assimila, equivocadamente, ou não… Penso que podemos ser, no final das contas, só uma colagem de recortes alheios, que por sua vez também o são… e o silêncio grita por um espaço no meio desse caos de (des)informação.
    Estavas em silêncio e veja no que deu. Um texto “daqueles”, que nos coloca a pensar, pensar, pensar….ssssshhhh….. ;-) Até!

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    1. Marcia, silêncios necessários. Sabe que dessa profussão de discursos que falas é que ausentei. Então, como sabes, escrever me acalma e tentei descrever o tempo em que a palavra volte em seu significado de entendimento. Como acontece entre amigos como eu e tu. Até daqui a pouco. Fica bem!

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  3. Mariel já sentia falta de suas palavras por aqui. Mas eis que surge com uma preciosidade dessas! Nos envolve, no encanta e ainda nos deixa reflexivos… Ah rapaz, some de novo não! A não ser que nos traga outra pérola como esse texto. Show!!

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    1. Roseli, senti tua falta também, assim sob forma de comentários. Afinal, vivo entrando no teu espaço, bebendo o vinho fino que há lá. Sumo não, querida. Cheguei e vamos seguir juntos!

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  4. Mariel, desde cedo li 3 vezes seu post. Não tô querendo polemizar nada nem irritar ninguém, talvez devesse, sim, ser menos obtusa. Será que você está propondo uma reflexão sobre ‘sofistas’ do mundo virtual? Você acha que já não existem genuínos escritores nem leitores?

    Por outro lado, será que alguém tem algo novo pra dizer pra alguém? Será que não estamos adentrando uma fase de dever ‘mastigar’ o que de bom já existe e simplesmente pôr em ação? Boa-noite pra você.

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    1. Você, mesmo que quisesse um esforço grandioso, não teria chance de ser obtusa. Irritar, isso nem sempre é ruim. Platão dizia que gostaria de ser a mosca que incomoda os confortos, lembra? Vivo de escrever, de ter ideias, de encontrar originalidades. Mas, acima de tudo, escrever me acalma. Então entendi num determinado momento que não escrevo, copio o que vejo, descrevo e isso me acalmou mais ainda. Que há sofistas, não tenho dúvida. Tudo o que dizemos é novo e o que foi dito precisa sim ser entendido nas profundezas que tenha. O que faço então? Escrevo. E escrever, às vezes, é silenciar.

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  5. Mariel tu não copias, tu senti e usa a palavra de forma diferente, como uma verbalização audível, inteligível, nada silencioso e muito menos truques de trocas. Sua lavra é sempre bem posta é peça de tabuleiro de quem sabe jogar, domina a expressão em timbre perfeito e aplica em escrita para que colha o efeito.
    Dizer que gostei é pouco, amei seria um termo perfeito, entendi cada palavra e seu som e entraram por meus olhos ressoando a mente alimentando a alma e me deixando contente.
    Obrigado amigo! ;)

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    1. Nossa, que declaração carinhosa de afeto essa tua. Afeto aceito, com honra e alegria. Amizades capazes desse acolhimento, isso sim, não há copia possível. Emocionado, agradeço de coração. Obrigado a você!

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  6. Hoje alguém me perguntou: por que prefere o silêncio? Respirei fundo e me lembrei imediatamente de alguém que disse aprender com o meu silêncio… enfim, já tem tantos barulhos por aí e a palavra virou arma em mãos pouco hábeis. Muitas pessoas acham que são capazes de proferir meia dúzia de palavras e resolver ou criar todos os conflitos do mundo. Tão cansativo.
    Eu prefiro imitar o nono e ficar sentado numa cadeira na varanda a olhar para o nada enquanto mascava palha no final da tarde, pouco antes do jantar. Eu sempre quis perguntar a ele o que acontecia em seu pensamento, mas nunca o fiz, afinal, era um ritual de silêncio e admiração. rs

    bacio cario mio

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    1. Ah, esses nonos… Teu comentário me trouxe Madalela, minha vozinha de olhar esperto e gestos rápidos. Não sei o que ele pensava, o teu nono, enquanto ia conversar com morfeu. Mas desconfio que antes de qualquer coisa ele pensava em ti e sossegava, na certeza que via a alma querida e iluminada que tens. Carinho meu, querida.

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  7. Que bom que quebrou esse silêncio. Ler-te deixa minha alma menos solitária.
    Por falar em briga: onde tu andava esse tempo todo? Faz falta aqui.
    beijos

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    1. Estive em um silêncio sabático, Mariana. Mas fiquei de olho, vendo as belezas que as amizades e os talentos como o teu podem produzir. Briga? Como assim? Não tenho em item no meu depósito. Mas voltei pra ficar.

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  8. Seus textos têm sempre a medida certa. Deixam o recado com elegância e muita poesia… Maravilhoso!!! Abração! :)

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    1. Francélia, leio muito teu espaço. Aliás, o do Indiana Jones me divertiu muito. Sei, não era sobre o Indiana Jones, mas sobre o doc 515 (ou 512, me escapa agora). Bom, tudo isso pra dizer que me alegra a alma o tipo de troca que este espaço nos propicia, a riqueza que é capaz de gerar. Seja tri bem-vinda, sempre, combinado? Abração pra ti também!

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      1. rsrsrsrs… fico feliz em saber; e sim, essa troca é fantástica. Seja sempre bem-vindo tb Mariel. :)

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  9. Também sinto muito a falta de sentimento, de profundidade e de reflexão em tudo. Nas palavras, faltam a expressão, a exclamação, a razão. É um tempo estranho de se propor, sem ter propostas. De falar sem ser ouvido. De perceber e se calar, mantendo as futilidades, como se todos nós fôssemos bufões. Parece que o mundo se afoga rindo, em um copo de cerveja quente e barata.
    Sim, as palavras estão apartadas da beleza de sua natureza, a comunicação. Claro, ainda existem algumas raras exceções.
    Me recuso a silenciar, mas, me recuso a falar se não for pra dizer o que penso. Eu penso! Eu calculo! Eu reflito! Eu percebo! E sei a “horda” dos politicamente corretos e anulados cresce a cada dia.
    Seu texto Mariel, como sempre, poético, nos faz refletir, viajar. São as palavras mais bem gastas, melhor empregadas, que tenho visto. Quando resolve escrever Mariel, fico em silêncio.
    Não está mais aqui quem falou. Por enquanto.
    Grande abraço.

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    1. Michele, fiquei sem palavras. De qualquer forma, não vivemos só do verbo, mas do que ele é capaz de criar. E no teu caso, criou uma alegria emocionada aqui. Porque acredito que e escrita sempre existiu como um instrumento de aproximação, um ponte, uma forma de traduzirmos uns aos outros, nos compreendendo em nossas limitações e infinitudes. Escrever não nos torna mais humanos. Obrigado por estar aqui, falando com a alma de quem deseja ouvir a vida. Grande abraço em você.

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  10. “E no início era o verbo…”

    Por vezes, mais do que encontra ecos… há uma busca para que certas palavras se materializem em alguém que então irá destrinchá-las… Porque ela doem na alma… Até que esse alguém surge e lhe mostra a lidar com os próprios espinhos… https://cadeiranteemprimeirasviagens.wordpress.com/2009/02/12/nem-tudo-sao-flores/

    Mas com certeza certos silêncios nos leva a nos conhecermos sempre. Pois o mundo meio que nos exige esse teste quase que diariamente!

    E que bom que voltou desse longo silêncio desse e nesse mundo que nos deixa tão perto mesmo estando cada um de nós tão longe!
    Beijos,

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    1. Certos silêncios. Certos amigos. Certos encontros. Certas pessoas são exatamente o precisamos, a inspiração certa, um certo alívio, a gratidão líquida e certa pela amizade certa e indispensável. Beijos Lella.

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  11. olá mariel! adorei o texto! traduzo essa espécie de “mediocrização” da palavra e dos discursos (genericamente falando) como incongruência. um tipo de mal que acomete/acometeu um numerário significativo de nós… “o que digo não é o que faço, nem muito menos reflete o que sou”. a poesia nos ajuda a cortar o supérfluo, (apesar de sabermos que o artista não é a arte, nem tampouco vice-versa, como muitos desejamos, ansiamos e eventualmente nos decepcionamos) é claro que nem sempre conseguimos o que a intenção propõe mas, é verdade que temos uma alternativa interessante. gratidão pelas visitas e eventuais comentários. namasté.

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    1. As visitas que faço só confirmam o que encontro: muita verdade, reciprocidade, olhares e atitudes acolhedoras. O silêncio, muitas vezes, é o resumo mais exato dessas virtudes. O fato é que fazemos barulho em demasia, produzimos consumo em excesso e falamos mais do que o necessário, além de calarmos o essencial. Você me mostra que há outros caminhos. O que escrevo é sobre a honra que sinto em passar por ele em grande companhia.

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  12. Hoje ganhei o dia, além de descobrir essa página, essa quantidade de comentários tão bem escritos e observados, ainda há esperança… Um abraço.

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    1. Tati, minha única genialidade é ter pessoas gentis como você ao meu lado. No mais, só escrevo o que vejo e conto que gente como você vejam o que eu escrevo. Um carinho pra ti.

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    1. Raquel, você está lendo com a alma, o que significa dizer que enxerga mais do que escrevo, além do que proponho e ultrapassando o que digo. Isso é único. Te agradeço o carinho da gentileza, assim, de coração

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        1. Faço questão, Raquel. Acredito em palavras que conversam. Que vão do reconhecer o outro a agradecer pelo reconhecimento e tudo que a gente possa colocar de bom entre uma coisa e outra.

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  13. “Quem ainda não reparou esse flerte entre o discurso e o falsete? ” Genial! Ah, se mais usuários da palavra escrita pudessem lavrar tão bem suas palavras… Bem observado. Bem argumentado. Poético.

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    1. Bruno, fico lendo estes abraços por escrito que amigos como você me mandam. Acho, de verdade, que o que faço e descrever o que vejo. Você tem uma ligação com a música e sabe: é impossível manter o falsete. Basta olhar, ver e descrever a cena. Abraços, querido.

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    1. Foste a única, pelo menos a única que mencionando lavras, entendeu a semeadura que antecede o escrito, mesmo o dito, a palavra. Deve ser efeito de um olhar afinado, que se vacina contra a mesa não posta, os cabelos no chão, a porta fechada, hum? É isso que faz valer o escrito e que torna bom demais o teu gostar triplicado.

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      1. Ah, Mariel, certa estava eu quando muito antes havia te adjetivado com justiça. É mesmo muito perspicaz! Mas mais que isso, tem algo de sutil e extremamente sensível nas suas caras observações. Que fazem perceber a árdua luta que se trava contra o fim, contra a porta, de uma aspirante a, também, lavradora. E que também se singulariza em pequenas percepções. Se pudesse agora quadruplicaria aquele gostar triplicado, porque onde achei que havia descoberto um simples lavrador, encontrei então um experiente dono de vastas plantações.

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  14. Pois quem estas palavras disse não deve calar-se…
    Enquanto adepta do silêncio tão precioso, nada mais direi…
    (também senti saudades da sua escrita).
    Abraço, Mariel!

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  15. Mariel
    grata pelo teu “gostar” no piteco que dei no blogue de Catarina , no Filisofia de Botequim. ..
    sempre estou por lá pitecando nas janelas de Lisboa…
    em tempo, belo texto. ..tímida em comentar diante de tantos ilustres…
    abraço
    Sílvia Orchidea
    Rio

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    1. Silvia, somos todos ilustres e anônimos, vai de onde se coloca o filtro. E se cliquei ali é porque gostei de fato. Eu também visito muito ali, gosto. Venha sempre, podemos combinar assim?

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  16. http://www.revistaforum.com.br/mariafro/2015/03/27/globo-recebe-mais-uma-vez-uma-aula-magna-de-politica-inesperada-e-indesejavel/

    Perdão. Não localizei teu email e, afinal…são palavras…
    (O dia em que miriam leitão tentou reconduzir o professor atrevido ao script global…a moça ainda está procurando o rumo de casa…
    Vale a leitura/video, mesmo aos que amam a emissora …
    :-)
    bjs
    Sílvia
    PS. : já passou no”Filosofia. ..”?

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    1. ah, desculpa: meu email é marimpar@gmail.com

      Preciso melhorar um pouco a resposta. Não amo nem odeio a globo. Acho alguns programas bem ruins e algumas produções bem boas, como acontece com todas as exibidoras que também produzem. Seus produtos jornalísticos são a cara dos seus donos, como todo jornalismo do mundo. Discordo de um ponto sutil: profissionais como a Miriam Leitão estão ali em condições diferentes do sociólogo.
      No mais, vou sempre no filosofia.

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  17. Entre o discurso e o falsete se esgueira sorrateiramente a linha sinuosa da razão.

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    1. Minha nossa senhora das nossa senhora, senhor! Esse comentário me deixou mais feliz que vitória do inter. Agradeço, emocionado uma barbaridade. Uma honra receber esse carinho

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