Tem gente que te reestarta, te tira do modo soneca, desperta multidões em você. A distância é um detalhe porque a resignificação é, inclusive, geográfica: tem gente que te mostra que você está ou estava a milhares de quilômetros de você mesmo. Então esse encontro será pleno dos desencontros que nos aproximam o tempo todo. E por que? Porque nos avisam que somos diferentes e que as diferenças nos tornam semelhantes. Também alertam sobre o perigo que as projeções e as expectativas escondem atrás de si. São sombras sem árvores ou água fresca. Pensando nisso, pensei no que Espinoza matutou sobre o assunto, gosto das matutagens dele e o que esse baita pensador concluiu? Que há gente cuja existência nos causa alegria, que seria não apenas o oposto da tristeza, mas a própria modelagem do amor em seu aspecto onde você é você, o outro é o outro, os dois são o que são e isso é bom, engrandecedor e soberana expressão da felicidade. É o espaço onde projeções e expectativas perdem o emprego e vão tentar a vida no Uber. Então o estado da alegria é algo plenificado pelo contentamento, mas não obrigatoriamente pelo estar e necessariamente confirmado pelo fato de ser. Você reconhece no outro o direito de ser quem é, o que produz alegria em você. Isso tudo de Espinoza é profundo, correto e lindo? Se você pensou sim, deixa eu fazer uma pergunta. É sim mesmo que seja não? É sim mesmo que ela ou ele morem longe do alcance das tuas mãos? Mesmo que haja impedimento, outra ou outro? Ou talvez nem seja o caso e a barreira é formada por outras formações, outros indicativos como carreira, família ou impossibilidade de aceitar o ofertado? Quando o amor alegria de Espinoza não é mais o amor que te alegra, a gente passa a jogar um outro jogo, o da tristeza que alguém lhe causa pelo fato de existir. Você pensou em alguém agora? A existência da alma que amo me causa alegria. Tua ausência causa saudade, o que é diferente de tristeza. Certas escolhas geram frustração, algo diverso da tristeza. Ausências provocam irritação ou raiva até, mas essas coisas são outra coisa que não tristezas. A lista pode ser longa, assim como a reflexão pode ser incômoda. Mesmo assim, desconforto (inclusive extremo) é algo, tristeza é outro algo. Então talvez a medida seja quando o emprego, o país, o projeto, a religião, os relacionamentos afetivos, as interações de trabalho, um pouco talvez de tudo deva ser exposto à sua lente mais sincera e responder a duas perguntas. A primeira é essa: o que sinto tem o gem do amor que me dá alegria pela sua simples existência? Sendo sim, é menos importante uma porção de coisas e você saberá o que te mantém ali ou porque se vai embora. Por outro lado, o que sentimos pode ter o DNA do contrário do amor, a indiferença, produzindo tristezas. Aí, a pergunta é um pouco mais pontuda. Se é isso, o que te faz ficar pode ser o fato de haver então algum indício de alegria sendo esperada, dada ou recebida. Muitos chamam isso de dilema socrático. Não é o meu caso. Eu chamo de vida.
21 comentários em “Big bang”
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Poucas perguntas e muitas questões. Vc andou caprichando na receita do bolo.
Um beijo.
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Elaine, tão bom você por aqui. Reclamações com Espinoza
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Tá louco? Se foi Espinoza que te fez voltar, então, a ele só “valeus”, hahahahahah… Bom ter vc de volta também.
😊
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Espinoza faz voltar muita coisa. Ele me traz alegria e me trouxe tua companhia sempre bem-vinda.
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Tão bom ler isso!
😄
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Ebbba
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Poxa adorei esse texto, quero usar com meus alunos posso?
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Fica super à vontade. Vai ser uma alegria pra mim. Depois me conta como foi.
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Me espantei ao chegar ao final do texto sem pensar em nomes ou pessoas, apenas a sentir as palavras e saber que já passou da uma e agora estou com vontade de ir a cozinha e fazer um chá só para ouvir o som da chaleira apitar…
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Lunna, querida amiga. Não lembrar nomes foi bom? Nem pessoas? Estou pensando nisso e voltaremos ao tema.
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Se a reflexão foi boa a resposta menos peso terá. O que é bom é para lermos e assim como fizeste, espalhar. ;-)
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É isso. Como sempre, você tem razão.
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Vida é isso mesmo – aceitar o amor e a paixão, ainda que não lhe aceitem. Os dilemas existem e é quase condição sine qua non de existirmos – ou traímos as normas que nos impedem de buscarmos a felicidade (ainda que ilusória) ou nos traímos.
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Uau. Agora tenho material para refletir por semanas! Muito bom, muito bem-vindo e muito legal essa carinhosa motivação. Abraço!
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Na matemática tem uma coisa chamada matriz, que é quando a gente aprende a identificar o que é semelhante no conjunto das diferenças. Louco, né?
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Pera, pera, pera. Lembro disso da onde? Estudei isso em algum tempo será? Fala mais!
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Fala!
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Desculpe-me, eu troquei os termos. Na verdade, não é Matriz e, sim, Função Identidade: é uma função que possui a imagem de cada elemento como o próprio elemento. Acho que é a mesma parte da matemática onde se estuda imagem e domínio. […] Eu, contudo, gosto apenas do caráter filosófico do tema. Detesto cálculos. rs
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Então, isso me interessou um monte. Não sei o resultado de 3+2, mas filosofia é bom
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“Impossibilidade de aceitar o ofertado”
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:-)
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