
Olhando a foto, pareço estar num balanço. É uma boa imagem, não uma boa ideia. É o meu primeiro passeio em dias e dias. Ainda dói muito, a perda muscular é uma coisa, mas avanço. Nesse tempo, não houve hora sem esforço de melhora ou descrença quanto a isso. Chegar ali, onde o sol vai e volta, foi a glória olímpica do dia. Então, assim que cheguei, pensei algo como “eu precisava estar ali para te receber”. Sou dado à símbolos, fricotes, mesuras. Ao mesmo tempo, como frango com a mão. Com meu primeiro salário, comprei um violão. Gianinni, cordas de aço, grande erro, dão um calo enorme e o som não é suave e macio como o nylon garante. Meu primeiro tombo foi com Yara, joelho direito. A primeira moto, uma Honda CG 125. O primeiro carro, uma Brasília codinome nojenta. Meu primeiro emprego foi de recepcionista odontológico. Já ganhei a vida preenchendo cheques, fazendo programas que ninguém ouvia. Meu primeiro show foi em Caxias do Sul. Meu primeiro prêmio foi uma corrida de costas. Meu primeiro festival de música foi um fiasco, mas gostei. Meu primeiro jogo de futebol foi um Grenal. Meu primeiro tênis, um Kichute. Meu primeiro ano longe, chorei todos os dias e não saia de casa. Meu primeiro título publicitário foi “Ponha sua ideia no lixo”, para um encontro sobre reciclagem. Meu primeiro amor foi você, nada de errado não ter amado antes. É um fato, sem perdão ou pecado. Meu primeiro sonho foi ser piloto de F1. Meu primeiro texto foi sobre um cachorro chamado Uau. Minha primeira palavra em inglês foi boi, mas era boy. Meu primeiro grupo religioso se chamava AJUDA (Associação de Jovens Unidos e Dedicados ao Amor), aff. Minha primeira canção era uma droga. Minha primeira canção para alguém foi para você, gravada em CD e tudo. Nunca compus para outra pessoa. Minha primeira dispensa foi por telefone. Minha primeira dor foi embora com tua vinda. Meu primeiro desejo é te ver feliz. Meu primeiro ego complementa: o que só pode ser ao meu lado. E mesmo com impedimentos de toda ordem, com silêncios, com frestas, com coisas duras de ouvir e de escolhas difíceis de aceitar, estive ali, pra te levar um presente e te receber no primeiro passeio ao ar livre, depois da queda. Há significados nisso tudo, não te parece? Nada heroico, nada perfeito, nada pronto e acabado. Nada orgulho de amor dado, mas alegria do amor trocado. Então, se vens, é inteira. Cheia. Plena. Pronta. Zonza de saudade. Cheia de notícia. Se dizendo. Aberta e feita de riso e abraços indisfarçáveis. Declarada. Planetária. Primeira em ti e em mim. Irei assim, abrindo portas e lembrando de coisas que esqueces. Serei teu primeiro em tempo inteiro. Chegarei antes pra te receber. Estarei lá. Sempre estarei
Melhoras, Mariel!
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Tô na briga. Grato, grato, grato
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