Asterisco

O belo existe independente de qualquer um. É por que é, cause o que cause ao observador. Não existe porque algo o ressalte, seja opinião ou outro registro qualquer. Há naquela expressão a essência do que não nos pertence, mesmo que more conosco. Nos lembra que somos partes complementares, unidas pela liberdade da escolha, algo líquido, constante, amazônico e que cabe num olhar. Mesmo assim, temos daquilo apenas uma parte, um relance, o detalhe mais frugal, um fractal, o rabo do elefante ou uma linha azul, que percorre o azulado de um flor que lembra um asterisco, que reforça um código, que remete à resistência, que vive em silêncio e existe porque isso não depende de ninguém. Não é arte, é uma parte, a partícula que se transforma em desnível temporal ou livros, amores, amantes ou rios, tudo que é maior do que entendemos de fato. Importa menos se temos árvores, canções, quadros. Se trocamos bilhetes, se perdemos a hora, se entristecemos ou felicitamos, se somos ou estamos. O real é tudo o que não vemos, nem tocamos o todo, apenas nos intui e não se deixa esquecer se vamos para outros lados. Vive em sinais diversos, se diverte dormindo, acorda o bom humor, é o invisível do pequeno príncipe, os lírios da bíblia, o mistério de enluarada, a passagem do tempo em um lugar chamado notting hill, o cosmos da Odisseia, Neruda e não sei quem de sobrenome mãe. São cartas náufragas, Clarisse e você. Uma pintura, uma delicadeza e você. Um riso teu. Um amigo. Ariano. Allende. Isabel Parra. Simone, Sartre, Fábio, Chico, Bob, Michele. Um semblante em paz. Outro riso e eu ali, estreando o amor em exposição todos os dias. Que inexplicável bem-vindo, feito em tom sobre tom, completo e presente do vazio nas ausências que espantam ao pleno da presença que abastece. É cheirar o lindo. É comer o som. É tocar o aroma. É olhar o bom e ouvir o aroma de terra molhada. As 15 na arvore. Caldo de cana, pastel. É claro que isso não é um treinamento.