
Tirar alguém pra dançar num bailinho era um parto. Deixa eu explicar o conceito. ” um parto ” era uma figura de linguagem para dar ideia da dificuldade de uma tarefa. Já bailinho, em uma comparação ruim, era uma balada, sem ser uma balada. Trata-se de um salão ou garagem equipada com luz Negra. Isso está ficando complicado. Luz Negra era uma luminária capaz de efeitos especiais, ressaltava as cores brancas, dentes inclusos. Tirar alguém pra dançar era um parto já que você tinha que atravessar o salão em linha reta. E porque? Porque as gurias ficavam sentadas no lado oposto dos garotos. Algumas trocas de olhares e 3 ou 4 músicas do The Fevers depois, tomava-se poncho e coragem. The Fevers eram um grupo de algo parecido com rock comercial de qualidade duvidosa, como o poncho.


Mas hormônios são hormônios e lá íamos nós. Acontece que você aprendia a dançar dançando. E para isso acontecer, bom, já expliquei, era um parto. Lembro que eu tinha uma calça boca de sino amarela, com a inscrição “Mariner”, comprada em alguma biboca. Biboca era um lugar que aceitava te vender coisas ruins em vezes, muitas vezes. Boca de Sino era uma moda, volta e meia ela retorna como tudo que é moda. Atravessar o salão era tocar a eternidade. Risos abafados, coração disparado, aceita? Havia, no momento do pedido, uma súplica tipo “seja piedosa, aceite”. Se a guria estivesse livre, tudo bem, ufa temos um felizardo. Mas se ela estivesse afim de outro, bem, isso poria ser um problema. “Estar afim” era querer alguém de um modo especial. A dança em si era bem sem graça. Corpos se tocariam e isso, bem isso era o máximo. Mas as meninas dificultavam acesso colocando as mãos nos peitos da gente, quando a nossa vontade era justamente o inverso. Se a coisa avançasse, você teria um rosto no rosto, vitória plena. Beijo? Como assim, beijo? Não. Só se a menina fosse fácil. Meninas fáceis eram garotas que se deixavam beijar e depois ficavam faladas no bairro. Beijar menina fácil imediatamente decretava que sua vitória continuava sendo vitória, mas não plena.

Havia 3 métodos básicos de se dançar. Em grupo, com passinhos exaustivamente ensaiados ao longo da semana. Era uma forma segura de ser ridículo em turma e de passar vergonha de modo coletivo. Dançar músicas agitadinhas sozinho exigia coragem e um certo domínio corporal, o que era o caso de poucos. Finalmente, dançar músicas lentas, tipo próximo do ouvido da pessoa. Eu gostava dessa modalidade e fingia saber traduzir as letras em inglês.
Meu encontro contigo tem muito dessa inocência. Nos encontramos há anos em uma dança embalada por coragens mútuas. Não fingi nada, muito menos traduzir músicas direto do inglês, o que me causaria problemas, coisa muito maior do que o eventual uso de calça boca de sino. Não houve tática, fomos o que somos. Mas voce resistiu bem às roupas de ciclismo que usei muitas vezes. Cada vez que te olho, há uma garota que vejo ali. Atraente de um jeito tímido. Não dificulta tanto assim os acessos, mas nem é isso que conta. Sei que você me ensina e acalma para atravessar o salão de hoje. Fico dmirado pelo que há no encontro e nervoso ao te ver, falante e gesticulante que é. Aceita uma dança, meu amor? Por favor, diga que sim.
***
Molto dolce 🌺
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Grato pelo carinho do comentário
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:-)
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Eles faziam bem. Divertiam-nos. Depois surgiram os covers. Infelizmente, ou felizmente, nunca estive num bailinho.
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Acho que foi infelizmente, porque eramos sim divertidos. Soube pela Renata que vc teve dificuldade em postar comentários aqui. Passou?
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No seu blog não foi nos comentários o problema, mas sim o fato de não conseguir “curtir” a resposta a um comentário. Até parece q não leio a resposta.rsrs
No blog da Renata é que para eu conseguir comentar só dando umas piruetas e enganando o login. rsrs
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Hummm bom saber
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Como assim amigo pirueta??🤣🤣🤣🤣 desculpe achar graça pq sei q de engracado nao tem nada sei bm o que e quando enviamos comentarios que nao vão somem!!
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É para rir mesmo. Rrsrs
As piruetas formam-se ao entrar no WordPress, e por lá procurar o seu blog, fazer o tal login que pedes, pois direto pela página do blog não consigo.
Renata, eu sou do gênero feminino. Só o nome do blog que soa masculino. Agora será o Mariel a rir com isso. Rsrsrs
Bom resto de fim de semana aos 2!
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Rindo, rindo, rindo!!
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Acabei de enviar e advinha sumiu de novo 🤦♀️
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Eita
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Acho que tem que ser aprovado pelo Mariel. Meu comentário tb, às vezes, não aparece de imediato.
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Pode ser isso🎯
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That is a pleasant, timeless little story. : )
I know that music! In my country you’ll hear the same music by Creedence Clearwater Revival. The song is called “Have You Ever Seen The Rain”. You can find it on YouTube. It’s neat to hear it in your language.
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Engraçado este post, porque revi a situação…mas no lado das meninas!
E também as calças à boca de sino, agora novamente na moda. E também as mãozinhas das meninas bem comportadas no peito do rapaz …e os beijos e o aconchego daqueles que não eram tão bem comportados!
E aquela sensação de estar a ver se alguém vinha buscar esta menina para dançar. E de esperar que fosse aquele que eu gostaria que viesse…mas que raramente vinha!
Enfim, com este texto fiz uma curiosa viagem pelo tempo, pelas memórias….e também aos “moralismos” que então habitavam a minha cabeça!
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Que coisa boa de ler, Dulce. As viagens no tempo e nos valores que ele ensina falam muito da gente. De fato, o meu lugar de fala é o de um garoto que precisava atravessar o salão. Não pensei nas meninas, mas você me redimiu.
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Dançar é encontro, dos bons. Nem de corpos, nem de rostos.
Quase – não é não! 🙂 – o mais bonito texto seu.
Bom fim de semana, Mariel!
Espere – se Ela não for louca – por um “sim”.
☺
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Que querida você, Anna, que querida.
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