A eterna vigilância

Eis uma frase e tanto.

Completa, seria ” O preço da liberdade é a eterna vigilância “. Trata-se de uma afirmação estranha, já que liberdade e vigilância moram em cômodos separados e praticamente não se falam.

Em nome da liberdade, a vigília. Você pode ser livre, mas não vai conseguir dormir. No lugar disso, andará atento e alerta, numa constância desassossegada que mantém os olhos eternamente arregalados.

A sensação do eterno vigilante da liberdade é de que um exército Vikings o espreita. Que uma força está sempre prestes a invadir seus territórios reais ou imaginados. Que a qualquer momento o sonho bom mostrará seu lado sombrio. Eles têm, mas são sonhos, tanto faz. Que vida tensa, a dos livres.

Um tanto invejo as pessoas que se pensam assim, livres. E se assim pensam, é desse modo que se sentem. Acontece que perceber o sopro da aragem não é ser a brisa. O mesmo vale para a liberdade. Tê-la e precisar vigiar para mantê-la a torna precária. Uma prisão continua sendo isso, mesmo que a disfarcemos de casa com vista para Deus. Talvez a diferença entre os habitantes dos presídios e os que vivem do lado de fora seja essa: os presidiários sabem que estão presos.

Uma das conclusões que essa conversa me leva? Somos livres quanto menos vigiamos o que conquistamos de material ou imaterial. E prisioneiros de remendos quanto mais defendemos o direito de existirmos segundo e seguindo nossa essência. Parece que isso quer dizer ser quem se é. E estar onde se deseja. ***

Publicado por

Mariel

Vale o que está escrito

3 comentários em “A eterna vigilância”

  1. “Talvez a diferença entre os habitantes dos presídios e os que vivem do lado de fora seja essa: os presidiários sabem que estão presos”.

    Sensacional! Como sempre, muito bom ler-te! 🙂
    Abraço

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  2. Acho q até essa pequena liberdade de ser quem se é e estar onde se deseja são limitadas, pois temos deveres e responsabilidades por outros q nos impede; e isso não quero dizer q é de todo uma prisão no sentido de desagradável.
    Hoje estamos refém de um vírus. A minha liberdade tem sido restringida. Nem falo de usar máscara. Falo das atividades restringidas ou mesmo canceladas.
    Sim, os presos sabem q estão presos, nós não sabemos.

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    1. Bons pontos, como sempre. Divergimos em alguns porque os impedimentos, como vejo, são escolhas, nem todas feitas de modo livre. O vírus tem sido duro com todos. Cuide-se

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