
Dizem que nossa atração pelo futuro é uma tentativa de controlar a morte. Seria ali (ou lá) a moradia da própria. Não haveria nisso nada de mórbido, mas a confirmação dos ciclos, etapas ou eras. O fim serviria como um meio de glorificar os inícios. Mas quando afirmamos que os jovens são o futuro do mundo e tacamos fogo na Terra, do que se trata? Não é uma mentira, estamos apenas sendo cínicos e antecipando o futuro que tanto queremos prever para controlar. Qual o futuro das mortes? Para cada início específico (da planta, do processo, da empresa, das estrelas e do homem), existiria a semente dos seus finais. Por isso, o que tentamos ver no futuro é menos a vida que teremos e mais se ela valerá o oxigênio necessário à sua concretização. Se o apego ao passado (que já se foi) gera melancolia e edições de fatos, o custo das previsões futuras é a ansiedade. Nunca antes na história da marcha humana foi tão alto o consumo de ansiolíticos, remédios para dormir, para acordar, para a concentração, para relaxar, para endurecer sem perder a ternura, para pressão, para as síndromes da maçã verde, de Estocolmo, do síndico enlouquecido. É pouco e pobre apontar culpas e encontrar culpados nas redes sociais, no mundo Vulcan, na velocidade das coisas, na fragilidade das relações ou no bom desempenho do Grêmio na Libertadores.
Distópico ou otimista, o futuro é uma esfinge que vai nos devorar, decifrado ou não. Queremos espia-lo para saber não quando, mas como. Wood Allen tem uma frase muito boa sobre a morte, acho que você conhece.
” não tenho medo de morrer, só não quero estar lá quando acontecer “
Teremos rugas, as juntas podem doer, a agilidade não será a mesma, partes do corpo não funcionarão do mesmo jeito, a mente não compreenderá tudo e esqueceremos algumas coisas sobre nós e os outros. Depois, finalmente morreremos. De tudo isso já sabemos sobre o futuro. O que nós queremos, então, com essa curiosidade à respeito dele? Como desconfiamos muito do que fazemos no presente, ao escutarmos as previsões, desejamos garantia de alguma glória em no passado. Amamos intensamente? Inventamos algo, nos apaixonamos, nos enternecemos, nos emocionamos, fomos essencialmente o que acreditamos? Porque se construimos algo assim, olha que espetáculo inesquecível será ter vivido o pleno da vida. Então o que importa o futuro? O que é isso senão uma projeção de tendências, uma edição das coisas, um alvo inexato? É preciso chegar ao futuro inteiro, integrado, reconciliado com o tempo vivido e as escolhas feitas. O futuro é um estado mental. Uma visão. Uma crença. Um desejo. Não há nada lá, a não ser talvez as pequenas despedidas acumuladas. As renúncias obrigatórias. As perdas realizadas. As ternuras e afetos trocados, mesmo na dificuldade das frestas. A matéria prima do futuro também são as lembranças boas, como um bom café e um abraço emocionado na árvore. A escolha pelo que é certo. A lucidez sobre o que há de errado. O muito que podemos não ter sido. O futuro é um pedaço medo e uma parte nave. Nos levará, é certo. O que assusta é que o para onde depende de nós. ***
Eu tb não quero estar lá.
Há um pleno na vida?
Falar do assunto “morte” é um tabu ainda. Parece que para os que seguem o budismo não é, não sei se é assim mesmo. Somos tds criaturas tão fragéis que é difícil acreditar que por um segundo que seja não se tenham preocupado ou tido medo.
Eu esforço-me para não pensar, mas penso no momento. Vem por causa de uma cena de filme, uma notícia no jornal, um descuido no caminhar e mato uma formiga, uma florzinha,…
Talvez não se tenha medo da morte, mas do sofrimento de chegar até ela, que em alguns casos não ocorre.
Tema difícil de enfrentar. Desligsndo. Retornando ao presente. Câmbio.
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Acho que há um pleno na vida, sim. A maioria das religiões orientais têm essa visão de continuidade e o Budismo segue esse princípio. Eu quero morrer dormindo, sem maiores explicações. Se cuidem aí.
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Eu tb gostaria.
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Vamos viver
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