Bom finde

Passei o dia gravando. Gosto de externas, mas não nego que são cansativas. Depois de 6 a 10 horas de movimentação intensa, o corpo pede cama e a alma quer atender. Foi assim hoje e hoje é sexta, um dia que não conta muito com a minha simpatia. Então me dei conta que ri, que foi divertido, que estou exausto e queimado do sol incansável e intenso. Fazia tempo que uma sexta não era tão plena. Visitei lugares, cacei pedras, conheci a Ponta do Pipa, uma baia cheia de te amar por todos os lados. Fiquei te chamando de longe, contando as mini histórias, compartilhando o possível e fazendo as pazes com essa sexta. Não com todas, algumas delas são imperdoáveis pela distância que representam e representaram. Mas com 10.12, por que não? Ela também impôs limites. Mostrou que os impedimentos podem ter arquiteturas variadas. Que separações e encontros têm tanto a ver com as sextas quanto os dias e seus nomes signifiquem mais do que isso, dias e nomes. Fui descobrindo com o passar do tempo e com a ação do sol sobre minha cabeça, dramaticamente desprovida de cabelos, que importa pouco o quanto nos preparamos para algo. Escolha qualquer coisa. Captação de imagens, textos, datas, falas, reações, projetos, relacionamentos, questões simples ou complexas. Nada será como imaginamos. Mesmo aquilo que imaginamos com amor. Mesmos que tenhamos treinado por um tempão. Mesmo que ainda haja muito a dizer. É o gol que entra ou não entra por um triz e que faz você estar ou não estar na final ou no avião que vai cair antes que a final aconteça. A marcha que não engata e que pode impedir a vitória ou te dar tempo de ver um buraco enorme, evitando o tombo. A carta que não chega, a data esquecida, a camisinha que fura, o sim que determina outros caminhos. O não que nos manda lembranças.

O dia me ensinou a entender melhor essa força invisível que, nos pertencendo, incide nas escolhas que fazemos. É quando você diz “entendo que isso seja assim”. É quando alguém olha para algo e compreende não o algo, mas aquilo que o move. O que nos impede é o feixe de permissões que damos aos impedimentos. As razões subterrâneas que nos fazem ir ou ficar. Os valores que indicam o que fazer e quando. Os riscos que corremos e porque.

O filme que gravei vai ficar bom, mas não como planejei. O motivo para isso é singelo de tão simples: nada é como planejamos. Mas ainda que o acaso tenha dado ou retirado cenas, que a atriz seja ou não seja profissional, que as falas fiquem naturais ou não. Que a luz esteja adequada. Que a captação do som tenha ficado perfeita. Ainda que sol de rachar tenha mesmo rachado a pele e que eu tenha ficado exausto junto com a equipe, ainda assim é um filme. Já a vida é ao vivo, sem cortes e sem edição. O improvável comanda, o imprevisto reitera e a preenchemos com nossas existências e as milhões de escolhas possíveis. O que foi bom nessa sexta? Falar com você, que é um pouco como te tocar. Mas foi especial entender que as sextas não me aproximam ou separam nada ou de ninguém. Como qualquer outro dia, sextas-feiras são, como a vida, um campo de possibilidades. Podemos até resolver não escolher nada. Mesmo assim e também isso será uma escolha. Você é uma escolha no sempre. ***

Publicado por

Mariel

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