Invernada

Faz um rigoroso inverno, desses que gelam os ossos por onde passa um vento cortante e seu som sibilado fshiiiiiooooo.
Lá, adiante do morro dos réus, o sol se dispõe a ir e o céu abre passagem. É lindo de ver, a ponto de levar a saudade de qualquer verão pra longe. Depois de um dia inteiro tiritando, um dia não, dias. Dias não, meses. Foram meses tiritando.
Então, finalmente um descanso no feno e seu aroma de feno, a consistência de feno, o cansaço que acolhe sem saber de nada, afinal, é um punhado de feno. Serve para deitar, depois de meses tiritando de frio e pensando impropérios correspondentes.
Aos poucos, a pálpebra pesa e os pensamentos se acomodam em cima do trator. Atrás do ancinho. Ao lado do balde. Nos dentes do rastilho. Nas costas da pá. Junto com os marrecos. Nos lampiões na madrugada. É o seu tempo de sonhar-se. Ali, escondido no celeiro e acolhido entre o feno e o frio, dorme depois de mais um dia. Tem a sensação boa de um dia bem feito. É quando adormece.

Publicado por

Mariel

Vale o que está escrito

5 comentários em “Invernada”

  1. A vida no país é única. O tempo parece ser determinado em cada estação.
    Gostei do seu poema. Gostei da sua leitura.
    Desejo-te um feliz ano novo. O melhor para você e sua família.
    Um grande abraço
    Manuel Angel
    .

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    1. Manuel, que delícia a sua visita. O texto não tem a pretensão de ser uma poesia, a ideia inicial era um continho de Natal, sabe? Mas se você gostou, que bom. Te retribuo o carinho do desejado. Feliz 2021! Grato por vir.

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