momento zero

passei o dia repassando os dias. descobri, escarafunchando lembranças, que tenho pequenas felicidades guardadas. coisinhas, panos de prato bordados. uma bailarina que se aposentou, um dedal, um livro sobre cortes e costuras. existe um muro branco cercando um quintal onde late um cão bondoso, como quem diz te espero ao fim de tarde sentado, faminto, cercado de pó e grama, me traga ossos e novidades. nasceu um pé de inocência que se juntou às sementes de confiança, brotou uma canção e olhei no olho da vida, sorvendo, aprendendo seus silvos, sinais e guizos.

num ano tão enclausurado, cheio de máscaras e opiniões, o que houve foi festa de encontro, entrega de alma, bicicleta, um parque nas águas, um dique nas mágoas, um riso entre tantos entretantos.

nada se foi, porque ir sugere um lugar específico. onde estou é gratidão, fora do alcance de culpas, sem o julgar do perdão. teve temporal feio, ouvi vento forte, mas o vão (onde só cabe amor) é tão amplo e profundo, o que temer? e porque?

é tão impreciso te agradecer. se faço é mais como uma forma de dizer estou bem, o que é metade do que você precisa para dormir em paz, como na Valsinha.

***

Publicado por

Mariel

Vale o que está escrito

2 comentários em “momento zero”

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