
Acusam a filosofia de ser filosófica, ora vejam. Assim, no sentido de não ser prática, coisa que considera aspectos, nuances, gradiências, momentos, contextos. “Isso é muito filosófico, vamos para a vida real”. Me falam tanto isso, como se fosse possível distinguir ou separar escolhas (que moldam o real, portanto uma opção filosófica) daquilo que se vive. Não há vida sem filosofia. Casamento ´é um compromisso eterno? Salvar mãe ou o bebê? Cerveja liberada, maconha não? Sinal amarelo é para ficar atento ou acelerar? Você acredita em algo ou te ensinaram a levar fé naquilo? Que meia usar? Qual veículo utilizar? Tomo ou não a vacina? Ficar ou ir?
Filosofia determina o como e os porquês da gente viver e morrer. É isso ou servimos para andar pelo mundo garantindo que a Terra tenha o peso necessário para seguir viagem.
Acusam o romantismo de ser muito romântico, ora vejam. Assim, no sentido de não considerar o pragmatismo que seria uma exigência da vida. No entanto, o que marca esse movimento (que é filosófico, no sentido de dar direção a uma escolha) é a rejeição aos preceitos de ordem, harmonia e balanço, característicos do Classicismo. Dando uma desempolada nos termos, romantismo quer dizer, mais ou menos, que o outro conta e que por isso, cada um tem o direito à ir e vir, ser e estar, concordar e discordar, dispor, criar e escolher. Tem a ver com gosto estético, gastronômico, pessoal, é você quem manda em você e isso não é negociável. O romantismo é algo que considera essenciais a emoção, a subjetividade e o transcendente. Putim, Bolsonaro, Medici, Getúlio, Hitler, Stalin, nossa -a lista é grande- não são nem foram românticos. Se reduz muito (por interesses estranhos) o romantismo ao cara que acredita que uma cabana mais amor igual felicidade. Não é verdade, o nome dessa diminuição é -minimamente- uma crença torta ou -pior- desonestidade intelectual. Eu acho que o dinheiro traz felicidade sob a forma de autonomia, sensação de segurança, acessos a experiências e tal. E se a visão de felicidade se resume a isso, a conversa tem pouco valor, o vir não é tão importante, o ficar perde um tanto do efeito, os símbolos podem ser desconsiderados, os gestos subjetivos vão para um armário desimportante e podemos ignorar os esforços de melhorar ou construir afetos no cotidiano dos defeitos que também são partes de nós. Um exemplo: não é razoável comemorar vitórias no vestibular, já que se passa facinho em qualquer universidade hoje. Mas se pensarmos filosoficamente (o significado dessa passagem) ou romanticamente (vamos comemorar o outro pelo início da sua caminhada profissional), talvez haja espaço para filosofias e romantismos na caminhada toda.
Preciso alertar que ninguém está pronto, que não estamos prontos, que não estaremos prontos e a viver não começa quando o emprego chegar, o amor for encontrado, os filhos estiverem criados, a família nos reconhecer, quando assistirmos uma corrida de F1, a empresa surgir, a ideia for aprovada ou qualquer aspecto da existência estiver completamente atendido. Nenhum aspecto da existência estará completamente acabado em qualquer momento da jornada. Teremos sido pais insuficientes, amantes imperfeitos, gente mesquinha, pessoas limitadas, mentores falhos, profissionais incompletos, cidadãos interesseiros, circunstâncias inesperadas, escolhas duvidosas, humanos. A perfeição é um projeto de controle social, uma arma farsante, o ego fazendo claque para esforços inúteis. E antes que me digam que sou um apóstolo do mais ou menos tudo bem, aviso que não penso e não ajo assim, nem me aceito como ser abstrato, entoando mantras genéricos sobre valores basilares como lealdade, comprometimento, propósito, amor, sucesso, companheirismo, luta, trabalho, consciência e verdade. Claro que é essencial saber de onde se veio, onde se está e para onde se vai. Onde quer que seja lá, não havendo amor a compartilhar, trata-se de um péssimo lugar para se estar, com ou sem chofer. A excelência dá um trabalhão e a régua alta é imprescindível. A satisfação com tudo que é tocável, comparável e sólido (e, portanto, desmancha no ar) não é um problema em si. O problema, como vejo, é atribuir valor perene ao que passa e que pode ser modificado pela circunstância.
Eu estou aqui é um dito praticado e que vale para o eterno. Em minhas imperfeições e excelências, em conversas sonolentas e viagens inesquecíveis, em silêncios prolongados e nas esperas para que vc entre em segurança, depois de ouvir, com o coração do tamanho de uma mini ervilha, durante um segundo a mais olhado, nas conciliações, reconciliações e se olhado a mais não for, eu estou aqui. Para construir, para proteger, para crescer, para caminhar junto, para apoiar, para discordar, para agir em conjunto, nunca para submeter. Só há uma forma de alguém não estar completamente seguro disso: se não me conhecer. ***
Vou falar do texto não. Falo outro dia, a depender. Quero falar da música ali em cima, REENCONTRO. E, veja você, Dom Mariel, nosso aventureiro Del Rey em nossas províncias do sul, não tenho nadica, níquites de nada de nada a falar sobre REENCONTRO. O que só depõe a favor de REENCONTRO. Gosto de “ballatetas”. Como a vossa, esta pequena balada aí, o REENCONTRO. Abraços.
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Querido Corintiano, que bom receber você. Adoraria saber sobre o texto, mas falando de Reencontro, demorei a entender do que você comentava. Então descobri que era da canção, que pra mim não está em cima, mas do lado. Pesquisei por ballatetas e leva para uma crônica sua que gostei, sobre um Jesus disfarçado. Gosto de reencontros com você.
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