
As mortes são o horário nobre da vida. Sem o falecimento do que não é mais, como haveria a encarnação de uma nova experiência e toda a jornada que ela precisa cumprir? Marcas morrem. Relações chegam ao fim. Impérios acabam. Ditaduras sucumbem ao sol dos dias. A maldade se vai. O mesmo fim será o destino dos maldosos, assim como dos gentis. A diferença entre um e outro é o legado que deixam, as lembranças que promovem e o futuro que semeiam. Mais dia menos dia, os dias do amanhã irão embora, tudo passará.
Não há Itaipu sem que Guaíra acabe. No fim do trigo, o pão. Viver é cíclico, há nas coisas algo que as leva. Se arrastam, mas são coisas. Gemem, as coisas. Tremem de medo do inevitável e o evitam em desespero. A meta do para sempre é o congelamento das experiências espontâneas. “Felizes para sempre” não é um objetivo, mas um castigo, aprendi.
Mas se tudo acaba, que razão há para a capela, o estádio, o foguete, o fracasso, o sucesso, o casamento, a amizade, as cidades? Pela necessidade da fé. Pelo espetáculo. Pela descoberta. Pela experiência. Pelo aprendizado. Pelo amor da gente. Pelo amor das gentes. Pelo pertencimento. Entregar-se a uma relação, doar a alma num ideal. Viver pelo bem coletivo. Tornar-se parte. Qual o propósito disso tudo? Acho que é o amor.
Amar alguém é a única coisa que nos faz imortais e mesmo isso impõe condições. Um homem, uma filha, uma mulher, um filho, um ser. Um país. Um cão. Um riacho. A sensação de entrar em um rio de água doce, tomar um chá, 15 minutos de conversa. Existe amor no cheiro de terra molhada e se você fizer um pacto, árvores te amarão. Mesmo as que tenham espinhos, como os limoeiros. Mesmo as que não tenham e vivam em um parque.
Conversas amáveis nos curam da escuridão. Gente é lume e farol. E se olharmos um para o outro nos sabendo um e outro, estaremos prontos para quando chegar o quando.
Quando morarmos juntos. Quando entrar na faculdade. Quando conseguir aquele emprego. Quando puder te contar o dia e contar contigo todos os dias. Quando chover ou esfriar.
Quase tudo irá embora, é certo. Mas poderemos resistir (felizes). Poderemos existir na segurança extrema que respira, invencível, na confiança que construímos, na coragem que inspiramos, no amor que nos abriga.