Simples

” Alguns suspiros são de tirar o ar ” (Dicodallma)

Antes das coisas terem alma, onde estão? E quando recebem o sopro da vida, para onde vão? Tudo o que é preciso está feito nos atos eternos dos gestos gentis. Ser feliz é impreciso e tem tantas faces, não te parece? Um abraço para saudades. Um espaço para verdades e para os domingos, torça para que sejam longos dias azuis. Os íntimos serão os primeiros a se ofertarem primaveras em todos os momentos. Há calma no sentimento quando ele aponta o caminho de casa. Quando você lhe dá a alma, o amor ganha asas.

Fosse você um trailler, que filme você seria?

Its all, pessoal

Tem gente que não gosta, acho que a maioria. Eu adoro traillers, aqueles resumos do argumento geral, as cenas importantes, falas hilárias ou sérias que dão o tom do todo. Procuro chegar antes para ver o que andam preparando para colocar em cartaz. A voz profunda do locutor dizendo “um filme que você não pode perder”. Perco a maioria, mas se algum daqueles instantes que antecedem o filme me interessam, estou fisgado. Fico de olho para saber quando o “em breve” chegou e finalmente é possível ver a projeção completa, sem cortes, edição definitiva. Dizem que há um filminho que passa quando a pessoa está prestes a morrer. Se é verdade não sei, morrer parece que é o que acontece na última sessão e eu vou protelando a exibição enquanto posso. A declaração-padrão é algo como “passaram todas as coisas que fiz na vida naqueles segundos em que achei que morreria”. É um trailler ao contrário. Primeiro você vive “todas as coisas” e todo mundo vê. Depois vem a edição dos melhores momentos. E só você assiste. Ou seja: justo as imagens selecionadas, com seu perfil mais favorável, ações elogiáveis e sentimentos estupendos, justo isso é mostrado para quem já sabe o enredo todo e só desconhecia o final. Tem gente que é um filme chato, interminável. Você acha que chegou o fim e então aparece a plaquinha de “seis meses depois…”. Outros são rápidos demais, quase um vídeo clip e quando você começa a entender o argumento daquela vida, The End. Há quem goste de ser uma continuação. Repetem o cenas do pai, refazem as falas da mãe, reprisam os gestos da família, usando sempre a mesma trilha e o enquadramento geral. Remakes, originais, previsíveis, geniais, adoramos filmes porque normalmente a vida ali tem 20 minutos de tempo ruim e no fim aparecem os créditos, nunca os débitos. Depois, como em Um Lugar Chamado Notting Hill, você pode se dar bem com a Júlia Roberts, mesmo que seu nome seja Hugh Grant. Em Casablanca, o Rick  abre  mão do amor da sua vida, age como se isso não fosse o fim do mundo e ainda por cima consegue dizer adeus com um “sempre teremos Paris” para ninguém menos que a Ingrid Bergman. Eu choraria o resto dessa vida e mais duas reencarnações, balbuciando “fica, fica”. É a desvantagem de ser um filme nacional. Homens e mulheres podem ser uma película de terror, contar histórias de encontro ou simplesmente se comportarem como coadjuvantes numa história maior. Seja qual for a nossa opção (é uma opção), fomos criados para nos transformar em sucesso mundial, com diálogos incríveis, cenas hilariantes, risos, lágrimas e muitas passagens de tempo. O fantástico é que ao contrário dos atores, nosso maior risco é interpretar um personagem, acreditando em ficção, decorando falas, desenvolvendo técnicas, expressões, vivendo num cenário. Ao contrário do cinema, temos um orçamento reduzido, não podemos editar nossos dias e o roteiro muda a todo momento sem maiores avisos. De repente, o tempo grita “corta” e faremos companhia para outros títulos na prateleira. É quando faz toda a diferença ter sido o mais humano possível, o mais leal à ideia central da nossa trama. Podemos ter uma existência cult, cabeça, alternativa, dramática, romântica ou cheia de aventura, nos transformando em clássicos. Melhor não correr o risco de ouvir o locutor anunciar isso sobre nós:  “perca, não é lá essas coisas”.

Os mundos pós aniversários

” Um livro com inícios, meios e fins “

Lionel Shriver escreveu um livro bem, bem, bom. Chama-se ” O mundo pós-aniversário “. Trata de relacionamentos e escolhas. E se Irina (personagem principal, não se deixe enganar pelo nome estranho) fosse por aqui? Ou por ali? Lionel resolve isso de modo brilhante. Ela escreve o que aconteceria se ela fosse por aqui. E o que ocorreria se ela fosse por ali. É um capítulo dedicado a cada escolha, as consequências, alegrias e decepções, envolvimentos, dúvidas, incoerências, certezas e sub-dramas. Você pode viver os dias de sim que Irina diz a um determinado encontro. Ou acompanhar o que se passa quando ela opta pelo não. Tudo entremeado ao dia-a-dia dos personagens e controlado com brilhantes toques de sutilezas, verdades e observações da nossa humanidade. A escritora encontrou uma forma super interessante de contar uma ótima história de encontros e separações em 541 páginas de leitura fácil. A maioria de nós tem saudades das escolhas que não fez, dos caminhos que não percorreu, de como seria, sendo, caso tivesse ido ou fosse, entende?  O livro resolve isso para Irina. Ela tem a possibilidade incrivel de viver plenamente duas escolhas.

Nunca fui primeira dama (ainda mais em Cuba)

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” Como é Cuba? é um te amar por todos os lados ” (Dicodallma)

Com Nadia Guerra, seu alter ego ficcional, a romancista e poeta Wendy Guerra escreve a história proibida das mulheres de Cuba. Publicado em oito países, cruza ficção e realidade no relato de uma mulher obcecada pela ideia de encontrar a mãe, que a abandonou aos dez anos de idade. Imersão num bravo mundo feminino, a busca por Albis Torres é também uma viagem a seu próprio passado e às salas escuras do regime cubano. Ao trazer a mãe de volta a Havana, resgatada em Moscou com uma doença que lhe tirou a memória, Guerra descobre em uma caixa de objetos pessoais os rascunhos de um romance que Albis escrevia sobre Celia Sánchez, secretária pessoal de Fidel Castro, heroína da revolução cubana. Rápida, às vezes triste e noutras envolvente como a alegria de uma Rumba, “Nunca Fui Primeira Dama” é um bom livro. Depois, a autora é linda e falante.

Pra se guardar

” Amigo diminui o joio e multiplica o nosso trigo ” (Dicodallma)

Já foram ilustres desconhecidos, os nossos amigos. Então, depois de um tempo, sabem onde guardamos preciosos segredos, além da chave do carro. Amizades de verdade resistem a tudo, de separação ao exílio. No primeiro caso, os amigos do casal têm uma neutralidade que sofre, uma mistura entre Suíça e Argentina. Em caso de exílio, situação que pode te mandar para fora do país ou para dentro de você mesmo, os amigos simplesmente esperam. E enquanto fazem isso, te celebram, não te esquecem nem deixam que te esqueçam. Aquecem, fazem preces, passeatas, escrevem, ligam fogueiras simbólicas e continuam torcendo contra o seu time do coração: a amizade é a tradução simultânea das diferenças. E os porres? E as visitas fora de hora? Os risos que saem do nada, os choros por tudo um pouco, os programas de índio, as conversas madrugada à fora? Amigo é um território onde não se pede documentos. Barulhentos ou quietos, errados ou certos, amigo está ali pra se oferecer em partilha, apoio, constância. Amigos não nos abandonam porque não se abandona um amigo, simples assim. Amizade é um estado incondicional, um oferecimento permanente de presença quando necessária. E de ausência, quando indispensável. Se engana quem pensa que amigo que é amigo compreende qualquer coisa que a gente faça. Isso é trabalho para o terapeuta. Um amigo de verdade usa isso, a verdade, quanto ao que sente ou pensa a nosso respeito. E ainda por cima nos diz, o desajuizado. Sabem passar a mão na cabeça como ninguém. E seus cascudos doem como nenhum outro. É da mistura inexata entre carinho acolhedor e firmeza incandescente que nascem amigos e vivem as amizades. Sem elas, teríamos bem pouco a fazer no mundo e nossos míseros feitos, um sabor muito menos intenso. Porque somos, vestimos, olhamos e ganhamos expressão real muito a partir do olhar daqueles a quem confiamos nos mostrar sem máscaras. Acho injusta essa fama de melhor amigo do homem que os cães ostentam. Como nossos amigos, eles fazem xixi na sua frente, comem de um modo desejeitado e se fingem de mortos em algumas circunstâncias. Certo, se alegram quando você está feliz e se entristecem quando é o caso. Mas se você precisa é de uma opinião, o máximo que um cão lhe dá é a pata. Diferente de casamentos, ninguém pede outra pessoa em amizade. Apenas se tornam amigos, dispensam testemunhas e em caso de separação, não há litígio: o fato em si já é sua pena máxima. Amigos têm algo de mágico, sabem sumir quando isso é importante. E reaparecem na hora certa, o momento em que precisamos de um amigo. Não para nos consolar. Nem para nos dizer o que fazer. Não para nos acusar, amigos não julgam. Voltam aos nossos dias porque é isso que os amigos fazem, estão à nossa volta, habitam as horas para que a gente passe mais tempo perto de nós mesmos. Amigos não são perfeitos, são sujeitos comuns. Entre todos, é aquele um que te conhece e que se oferece em amizade plena sem entremeios, sem entretantos e sem portanto isso ou aquilo. Por isso não é possível ter milhares de amigos, nem centenas, apenas alguns no máximo. O motivo é que não somos tão valentes, nem tão inteligentes, nem tão talentosos, nem tão qualquer coisa. É preciso tempo e paciência para descobrir nossas qualidades, um tempo que as maiorias não dispõem, mas que aos amigos sobra. Amigos são uma notícia boa, futebol aos domingos, um sábado à toa. Cuidam dos nossos filhos como se fossem deles. Cuidam da gente como se fossem eles. Lembranças, confiança, construção. Amigos de tempos difíceis, amigos que chegam na hora, amigos que buscam neosaldina, amigos que fazem o que é necessário. Amigos são precisos, são preciosos, são o que mais temos de nosso. Quem somos sem o riso que entendemos, o pão que partilhamos, a vida que vivemos? Somos também os amigos que temos, aqueles a quem protegemos e que são um pouco nossas lanças, um tanto nossos escudos. Para ser um amigo assim, para ter um amigo dessa grandeza, é preciso oferecer-se em amizade, criando em si o espaço propício para verdades duras ou amenas. Amigos se cultivam aos poucos, chegam lentamente, nem sabiam que seriam essas almas resistentes ao tempo, qualquer tempo. Simples, complicados, os de qualquer momento, aqueles especialistas em assuntos específicos, os que escrevem feio, os que nos acham bonitos, amigos são indispensáveis e se você respira, precisa de um. Não consigo imaginar qualquer história pessoal sem um amigo perto, pronto, especialmente atento. Talvez na fonte das nossas amizades exista uma frase, quem sabe uma senha, a revelação definitiva da incógnita da existência. Ou não seja nada disso e para coisa ou outra precisaremos de um amigo porque ter e ser um amigo é tecer na alma o gesto básico, indispensável e essencial de ofertar-se à vida, suas asperezas e carinhos. Viver é um mapa. Amizade é o caminho.

Aos amores, vãos

Vãos são espaços onde se conversa, preferencialmente sem pressa. Ali, não há necessidade que nos abrigue ou obrigue, apenas escolhas pessoais, nem menos nem mais. Certo e errado são opiniões em cercas de arame farpado, precisam ter razão ou perdem o sentido. Portanto, por definição, errado e certo é só uma questão de lado. O amor nos recebe sem maiores perguntas e deixa partir os viajantes cujo destino não era ainda ele, por mais que assim se deseje. Todo restante dito sobre amantes, amores e amor é invenção do cinema: todo mundo vive sem todo mundo, ninguém deveria sair de casa se não pode ser feliz sozinho, felicidade é um estado pessoal. O amor é multiplição, depilação, um vão, abraço da alegria, é um contentamento, um samba enredo, não uma solução para os nossos medos inventaImagemdos ou reais. Provoca suspiros, motiva camisas novas, banhos mais demorados, os enamorados são um tipo lindo de se ver. Se ainda não aconteceu, um dia vai ocorrer e afirmo, será uma correria por tudo, por nada, por um beijo a mais na escada, um minutinho de plenitude. Viver dá muito trabalho, mas o salário compensa. Por amor, é quase tudo de graça, entende a diferença? Então não comprometa seu amor com responsabilidades que estão longe da sua competência. Seu amor não serve para fazer você feliz como nunca. Ele existe para saber você feliz como sempre. Deixe que o amar faça exercício, o mantenha em movimento ou ele vai se transformar em espelho, imagem, vício, um amar o amor prejetado, planejado, um amor sem o sentido do amor. Caminhe procurando não confundir costume com saudade, te amo com bom dia, ciúme com cuidado. Não dependa de nada para ter uma grande vida. Então, talvez, você será um vão onde seu amor pode viver tranquilo.

Eu gosto da novela das 8

E tem mais uma coisa, acho mais divertido do que  “O capital” do Max que não, não é o amante da Carminha (que é casada com o Tufão, que gosta mesmo é da dona do salão de beleza). Adorava novelas mesmo quando elas eram péssimas, porque

Max, eu te amo
Assim, a nivel de brasil, entente?

não assistiria agora, que são apenas ruins? Os programas religiosos também contam com a minha audiência e confesso (sic) que me divirto tanto quanto Friends, Chaves, Big Bang e outros enlatadinhos. Dia desses um dos atores do “Avenida Brasl” deu uma entrevista muito caprichada e afirmou que a trama “é um divisor de águas na produção cultural brasileira”. Prova que mesmo sendo rasas, as águas podem ser divididas, depois multiplicadas para milhões de corações brasileiros, como diz aquele samba que não sei quem fez. A trama envolve uma bandida (que também é mocinha) e uma mocinha, que pratica bandidagens. No meio de tudo, a cultura suburbana, o “Charme Dance”, uma salada indigesta de ver como arte, mas uma delícia para não pensar em nada. Ah sim, no final, muitos se casam, alguns são punidos e outros se dão bem. Quer mais Avenida Brasil do que isso?

Dias

Blues, todos os dias blues.

Essa coisa de Dia dos Namorados, das Mães e dos 7 anões enche um pouco a paciência. Um pouco não, muito. Natal, Cosme & Damião (nunca ninguém pensou nesse nome para uma dupla sertaneja de cunho umbandista?) e o meu aniversário também são momentos bem chatinhos de se experienciar. Ninguém percebeu ainda o truque? As datas, nomes e palavras não significam nada, a não ser que você olhe para eles dentro dos olhos e encontre alguma coisa que represente algo de fato. O resto, como diria Fernando Pessoa, “são sombras de árvores alheias”. De minha parte, rego minhas rosas e sigo meu destino, como ensina a canção cuja letra transcrevo e assino embaixo.

Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.

A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós-próprios.
Suave é viver só.
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses.
Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada pode
Dizer-te. A resposta
Está além dos deuses.

Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.

Estamos em extinção. E nem somos tão simpáticos assim

Uma griffe de roupas da Islândia fez um anúncio que diz mais ou menos “Respeite a natureza, mas não espere essa reciprocidade toda”. Eu tropicalizei o título, mas o básico é isso. Achamos que isso de poupar água, separar o lixo e usar bicicletas é uma colaboração importante com o planeta. Não é. A Terra troca sopapos com asteróides de muitos tamanhos todos os dias, numa espécie de MMA universal. Você acha mesmo que ela não pode com a gente? Pode e se sacode às vezes, manda muita água em outras e brinca com os vulcões. A Terra sempre soube livrar-se dos seus habitantes inconvenientes como os dinossauros e alguns políticos. Ela pode esperar muito tempo para tomar providências. Tomara que a gente tenha sacado o seguinte: toda paciência tem limite.