Definitivamente, sou um vexame dos grandes. Qualquer malandro com uma história fajuta me tira uma grana em sinaleiro. Da grávida parindo e precisando de uma ajuda pro táxi ao office-boy que perdeu cinquentão e conta comigo senão já era, caio em todas.
Choro por coisas sérias e estúpidas. Saudade, amor, topada na mesa, comercial do Itaú, os textos da Clarice, uma passagem bíblica, lembranças infantis, pequenas gentilezas, grandes amizades, as coisas me comovem, algumas me paralisam, outras me movem, mas eu nunca deixo de perguntar algo fundamental: viver é pavê ou pra comer?
Pode ser no cinema, uma recordação enluarada, a sensação de presença da alma amada, um som, uma convicção, um olhar límpido, aquele gol do Inter no Olímpico, definitivamente, sou a terra do fiasco. Quer cerveja mais mimimi do que a Malzibier? É a minha preferida e juro, não faço pra chocar, por pose ou por tipo. Acho que sou mesmo um esquisito, que presta atenção no joio e nem sempre escolhe o trigo. Por que? Porque acredito que viver é simples, mas não é 2+2. Requinte é um requisito da simplicidade. Pressupõe se propor ao que é simples de verdade. Como pra quase tudo, há muitos caminhos pra isso. O meu não dispensa (às vezes) pão, queijo, salaminho e aquela do Roberto. Ah sim, ajuda muito se o seu amor estiver por perto. Não sei dos adequados, nem de quem padeça de certeza absoluta, ranhetice aguda, velhice doentia, indelicadeza crônica: sempre estive ao lado dos naufragados em águas turbulentas, onde nascem os bons marinheiros. Os que salvam mulheres e crianças primeiro, os engraçados, os prontos para ficar, os decididos a partir, os emocionantes, os emocionados, os amantes, os abandonados, os esquecidos, os deixados na terra dos temporais e dos absurdos. Olho para os vitoriosos do meu tempo quando o meu tempo faz aniversário. Nunca me senti tão bem jogando no time dos otários.