Está certo, será preciso procurar um pouco. Achar motivos aqui e ali, redesenhar velhas crenças, enfrentar certezas e mesmo evidências. Mas só está escondido. A um milímetro de mim e de você, existe um bom motivo, o princípio ativo do seu lugar no cosmos. Te pisca, dança, se apresenta, encanta e seguirá tocando sua flauta, até que venhas pra frente do palco que te pertence e acolhe. Ou não venhas e, mesmo assim, será brilhante. Talvez se disfarce de frase perdida em pesquisa na web, uma série, um pedaço de pão para alguns, um abraço distante para outros tantos, sonhamos diferente e realizamos de um modo pessoal. O significado de uma bicicleta, pra mim, será totalmente diverso da representação que tenha para alguém que não seja eu coisas como casamento, um apartamento, uma mudança, a visita, a quarentena, a impossibilidade, a árvore, a visita, a aliança, a esperança ou o gol do Inter.
Em conversa linda com a alma que amo, aprendi a coar a moral dos meus cafés existenciais. O sabor das coisas feitas ou não feitas fica mais puro ou, pelo menos, mais próximo daquilo que realmente é, caso de fato deseje saber o que de fato seja esse tal algo. Mas só está escondido, embaixo do abraço, da cura, do quadro, do livro, da palavra dita ou calada, do gesto, de imobilidade, de não ir ao encontro de quem se quer bem exatamente porque se quer bem esse alguém. Vive ali, no perdão, no copo d’água, numa nota de 50 encontrada no bolso, na música que toca e relembra. No sinal que fica verde, uma sopa, um SPA, a tarefa terminada, no dia bem feito, o sono profundo.
Recebi um e-mail tão entristecido, alguém me acusa de “espalhar a ilusão do otimismo com sua escrita histérica”. Coei a afirmação como ensinaste e me perguntei se era verdade aquilo que me dizia alguém. Do meu ponto de vista, não é. Mas veja: entre centenas de mensagens de incentivo, de perguntas, de alegria, essa me chegou ardendo. Olha o poder que dei a uma percepção fora da lógica que eu esperava, no externo do apropriado. Mas está escondida, mesmo na critica considerada pra mais ou pra menos, a lógica reversa. Se o otimismo é uma ilusão, seu contrário, o pessimismo, também é. Então sobra o que somos essencialmente. Ora tristes, alegres, rabugentos, entusiasmados, infelizes ou amados. É esse o antagônico mais imponente, naquilo que me aparece toda manhã, me fazendo cantar qualquer coisa: ou somos amados, condição primal de felicidade, ou não seremos nem amaremos, receita certeira para uma vida inexpressiva e opaca.
Nadando um pouco mais fundo, amar talvez seja (ou também seja) não esperar, não estar, não vir não abraçar. Não exigir, não beijar, não espalhar algo que não seja bom, belo e justo. Talvez a quarentena a que todos fomos submetidos nos ensine, enfim, a estar conosco mesmos. A brilhar pra nós. A proteger o outro de si. A de nos receber sem susto. E assegurar, de um modo silencioso, invisível e eterno, que o amor seja algo tão natural que seu acesso seja o caminho alegre da vida. Já disse hoje? Sim, amo você.