Não é naufrágio só porque afunda

Escrevo para ser visto ou, pelo menos, escutado. Escrevo auscultando tudo que vive e os motivo das muitas mortes que tive. Escrevo porque a urgência me acalma. Para falar do invisível que vejo. Escrever me gasta. É o que me faz desgastar os fatos, os encaixando na cama preguiçosa do imaginário. Desgosto e escrevo o que não mostro. Desprezo e escrevo (ao mesmo tempo) tudo o que me exaurindo, me vê partindo em mil pedaços. Sou parto e barco, porto se despedindo. Quando encerro, me fecho e não me queixo. Deixo que escorra em mim a borra do desencanto. Não me pergunte dos risos que não dei. Das riquezas extraviadas. Não é que não queira falar. Apenas não sei. Me fujo e me sujo em letras desencarnadas. Puno o que não lido. É um azar não me ler, mesmo a mim, porque descrevo o que te vejo. Agora percebo um certo desprazer, um incômodo, a decepção borbulhante entre silente e calma. Não escrevo, delato. Não escrevo, arremesso. Não escrevo. Me atrevo. Não escrevo. Não escrevo. Não escrevo. (   )