Vivo vendo, sou sendo

Às vezes não durmo, exagero no sono, acordo de noite, volto a dormir, desperto, reacendo e ressono. Cochilo andando de bike, bocejo em encontro importante, apago em viagem, digo parabéns em enterro, fico cansado, e suspiro. Sim, espirro enquanto dirijo. Tenho preguiça em estado insone, adoro cadeira de balanço, ando devagar, divago, deliro e durmo. Me interessa a sesta, odeio sexta e amo você.

Gosto de família, de briga pelo último bife, de ouvir meu apelido, de ter tido filhos, de ganhar netos, de falar pouco, de todo mundo falando ao mesmo tempo, de sentir muito, da gente se entendendo, de te ver rindo e de ficar quieto. Espero que me adivinhem, intuam, entendam o que não digo, me saibam, sou puro ego e dou um trabalho gigante. Chego antes, o riso me representa e o drama faz o resto. Sonhei com uma filha essa semana, já nascida, crescida, toda bacana. Aprecio chimarrão, gol do Inter, sou feliz sem Brocolis e fluente em linguagem calada. Quando o coração dispara do nada, junto com frio na barriga o que é? É certo que estou vendo você.

Não divido comida, nem doce, nem você. Se precisam, sou pra já. Misturo presença e distância. Furo, perdoo e peco. Futebol na praça, poça dágua, festa na roça, novela, uma boa história me atordoa, ficar à toa, de compreender algo em suas sutilezas, tua delicadeza. Se tenho isso, peço nada e sigo a vida até o fim, mas sempre pendendo pra esquerda. Sou do tipo porreta. Uso frases longas e meu principal ponto de vista é você rindo ou vindo. Discordar, às vezes, me diverte e levo o outro à loucura. Dou tudo que posso, nego se preciso de algo. Às vezes me morro. Às vezes me mato. Quase nunca me ouço. Vivo atento e se me calo é porque doeu. Depois me esqueço. Depois me amanheço. Depois me enterro, depois sou eu.

Na maioria das vezes, tanto faz. O gosto do feijão, o jeito cortina, se tem glúten no pão, se é galo ou galinha. Não ligo pra vegano, se é preto, pardo, cigano. Se é puro ou se algo é gourmet. Gosto mesmo é de você. Quanto ao correto, o costume, o indigesto, se tem cabrito na sala, se a roupa combina, o nome da prima, a marca do carro, faço pouco caso, nenhuma questão. Conto histórias, banalizo, encurto, simplifico e curto minha memória curta. Corto açúcar, conte comigo, crio piada ruim. Como pudim, manga, melância, banana, goibaba. Faço o melhor que posso, mas nem sempre sai bom. Saigon é bonita, escrevo, te penso, toco violão. Batata frita é a do MacDonalds, não enxergo de longe e de perto não lembro o nome. Ando de Headphone, mas escuto mesmo é você.