Falamos demais, enchemos a vida de palavras, devíamos poupa-la. Que lavra é essa, que pressa estranha, cadê o freio, do que estamos mesmo falando? Sobre o preço do pepino, se é genuína a prisão do Genuíno, sobre o tempo, se teremos Natal no pernil e, importantíssimo, se o Lulu Santos deveria mesmo continuar no The Voice Brazil. Falamos muito sobre tantos, sobre tudo, nos sobressaltamos. Você já reparou que tem gente que ao desligar o telefone termina a conversa dizendo “nos falamos”? Há uma enorme demanda por opinião, é o que dizem por aí. Especialistas em sapatos de bico fino, pós graduados em poesia boliviana, doutores em esperanto, mestres por todos os cantos que falam, exprimem, traduzem, induzem o que devemos concluir, pensar e sentir. Parece ser uma operação de um Bope comportamental, criado especialmente exterminar qualquer possibilidade se você permanecer original ou, pelo menos, de possuir seu próprio pensamento. O fato é que temos muita malandragem e pouco Capitão Nascimento. Na dúvida, se fala, quando no fundo o que cala é mais substancial. Manchetes, terapias, videntes, colunistas, o Jabor, então, da onde ele tira tanta opinião? Há uma falação que nos mantém inquietos. O novo lançamento, a cor do momento, a tendência, o que vem forte na estação, que tipo de margarina passar no pão, o que dizer para os filhos e dúvidas das dúvidas: leito ou mel no sucrilhos? O que colocar na mesa, quem será a nova globeleza, a última novela, o próximo destino e -assunto dos assuntos- se o irmão da Sandi é mesmo um menino. O verdadeiro amor, a descoberta de um falso Paraguay, a mulher certa, um homem atrapalhado, o velho continente, o novo chinelo e se finalmente a Ferrari provou que Felipe não é melhor do que Barichello. Por mim, chega, por mim, basta às palavras malditas, aquelas que existem porque vaiam. Não consigo mais ouvir o óbvio, a louvação, a falsa discussão, o argumento desconexo, e -sempre isso- ver na capa da Claudia tudo o que eu queria saber sobre sexo. Pelo silêncio criativo, pelo crivo, azar se ficar esquisito, que bom se achar bonito. Pelo senso particular, pelo bem geral da nação e pelo pensamento não declarado, vou usar mais o meu direito de ficar calado.