Meninos, saibam que eles chegam, devidamente acompanhados de suas certezas absolutas, Estão por todos os lados, os que sempre sabem exatamente o que fazer, como agir, o que falar. Eles tem um mantra: “eu avisei”. Não tremeriam diante de um adversário mais poderoso, mais preparado e melhor. Nem gaguejam, não tropeçam no cadarço, não têm tatu no nariz. Ele têm direito à vaia porque jamais esquecem de nada, se antecipam e são precavidos. Ninguém sabe como conseguem ter as rotas todas impressas, as conversas repassadas. Nem que tempo usam para treinar tanta sabedoria, os eles todos, esses que não fariam nada daquilo, que diriam tudo na cara e nunca, jamais teriam algum traço de dúvida.
Como será que se aprende sem o furo, sem a parte escura dos dias, sem as alegrias de um remendo bem feito? Qual virtude existe na canela sem cicatriz? Não há glória na derrota, mas pode ser glorioso o que se faz com ela. Aos 54 anos do meu segundo tempo, digo sem medo de errar: se fosse vocês, eu teria muito medo de errar. Penso que choraria antes, durante e depois do hino. Que não conseguiria entrar em campo, marcar alguém, correr. Ficaria paralisado caso 60 mil pessoas resolvessem me apoiar. Quando aos que vaiaram, acho que são um bando de traíras reunidos num amor condicionado ao sucesso. Que exigência é essa, onde só presta quem ganha sempre? Quem consegue viver sem errar o pênalti, a frase, sem perder a chave ou sofrer por besteira? Quem nunca tomou uma rasteira, não percebeu a tramoia, nem perdeu a namorada? Quem nunca teve um apagão, não soube o que dizer, esqueceu a senha na boca do caixa, soltou um pum sem querer, ou usou um sapato novo com a etiqueta aparecendo? Eu não preciso da seleção para amar ou odiar o Brasil. O meu país não fica maior se um time seu foge à luta. Torci pelos meninos e dessa vez não deu, vão brincar que essa dor já passa. Mas os donos do olimpo não perdoam o que existe de humano nas quedas, mesmo as volúveis como as esportivas. Na verdade, eles têm medo de saltar, naufragar e morrer na inanição que os mantém vivos. A vista, aqui do meu ponto, pondera que o pavor certo talvez devesse ser outro, o de existir num tédio bem decorado e com vista para o mar. Então, inexpressivos, viveríamos à salvo de naufrágios não porque enfrentamos as correntezas, mas porque evitamos (prudentemente) a aventura de navegar. Então, meninos, esqueçam os falsos comandantes, os reis do marketing, os caras dos discursos emocionantes. Eles queriam isso, justamente isso, pra poder olhar para a câmera e dizer: “bem que eu avisei”