
Estar diante do que se quer é bonança com direito à deslocamento de ar carinhoso, suave e bom. Chamam de brisa. Batizam de aragem, esse prazer em forma de movimento. É assim que é ver o que se quer dali pra frente na hora, no dia, no mês ou na vida. Em nome de tantas coisas e seus significados, os encantados entre si resistem até a eles mesmos, às vezes por anos. É um exercício continuo da busca pelo entendimento, um espaço de afetos incondicionais, lugar de perseveranças e descansos. O tom das vozes se alteram pouco e quando isso acontece, cortam pelo costume pelo pacificado. Mas estar diante do que se quer é gerar conversas, não discussões. As discordâncias estão ligadas à tonalidade satisfatória de azul nas coisas, o ritmo mais confortável de uma canção, quantas luminárias são necessárias para o conforto das leituras em dupla. Não é a felicidade margarina. É a felicidade de carne e osso. Ver a chegada do que ser quer é compreender algo juntos, mas não qualquer coisa. São sentimentos ligados ao sossegar no colo confiante e confiável que se impõe em sinais, avisos, intuições e confirmações. Nem sempre se observa o acaso agindo, pensamos em algo, percebemos uma imagem no fundo, passamos diante um do outro, um texto lembra o que amamos e muitos chamam isso de coincidências. Nos distraímos intensamente em busca de colocação, de futuro, de aceitação, dos fios soltos nas rotinas. Mas o que vale no fim do dia é se estivemos ou estaremos diante do que se quer. E para entender a importância disso, é inseparável um questionamento. Ele vai nos perguntar se sabemos o que queremos, pois só assim é realizável o equilíbrio necessário para estar diante do que se quer. Caso contrário, poderemos estar diante do que se quer e não reconhecer seu jeito de andar, um modo de ser, um molde de pensar, o retalho com o qual se veste.
Não há nada oneroso para se estar diante do que se quer. Talvez tenha sido providenciado um contrato, onde (em uma das suas cláusulas) diga claramente que caso seja necessário o deslocamento para estar diante do que se quer, um meio deve ser imediatamente providenciado. Ou máquinas param. Reuniões são adiadas. Se alguém quer algo e está diante do que se quer, nada é realmente longe, pesado ou inseguro. O que se quer é o seu lugar no cosmos. E se você está diante disso, alegre-se, quase ninguém consegue essa proeza por toda a jornada. Homens e mulheres põe o pé na lua, inventam coisas, criam vacinas, comandam exércitos, desistem de reinos, conquistam territórios, manejam letras, atuam, transformam, viajam mil léguas submarinas, suportam 100 anos de solidão, enfrentam a si mesmos, renascem, tudo por um instante diante do que se quer. São esses instantes que valem a eternidade, qualquer eternidade.
Você não cria despesas, não se preocupe com isso. Foram tantas as colinas subidas e descidas que o viajante sabe em que curva há o perigo, não subestime a capacidade de avaliação e resposta que não sejam usuais, que as prioridades se mostrem outras. Há uma lógica nisso que talvez não esteja sendo suficientemente considerada, valorizada ou mesmo vista.
Entenda: toda segurança é frágil. Estar diante do que se quer exige mil cuidados e todos eles são pouco confiáveis. Não há truques nos deslocamentos. Não existe a mágica do desaparecimento, somente o silencio completo e irrestrito assegura a calma requerida. Evidente que isso não justifica qualquer jeito desorganizado ou improvisos desajeitados. Mas risco zero não há, nem existe um formato a ser escolhido, a ideia de um cardápio de escolhas é ilusão: ou é uma coisa ou é outra. Não confunda isso com imposição, é uma observação elementar, a de estar ou não diante do que se quer. Se não estamos, não estamos. Mas se estivermos, será preciso um plano, caso exista vida afetiva depois da toca.