
É no matinho que morava, toda laranja. Se dizia holandesa, “é só olhar minha cor”, se gabava. Mas era mesmo resultado da rua, de pó, de sol, de chuva rala, de grama solta, de taturana, algum pedregulho e muitas abelhas. Tinha cor do acaso, raiz pequena, folhas luzinhas e testura de Holanda. Era uma flor de se olhar, dessas sem vergonha e molhadas por tudo que é sereno. Que se dá pra mãe ou pro amor depois de um passeio distraído, sem nada de motivo de nada, só uma vontade moleca de agradar. Um jeito recém acordado de gostar, um instantinho malandro de ser flor, um cheiro de lua, um banho de riacho, um pedaço de sono, uma saudade de entrar, um enfeite, uma flor que era sozinha e que agora é só minha flor, todo santo dia, que começa de manhã. ***