Colho

É no matinho que morava, toda laranja. Se dizia holandesa, “é só olhar minha cor”, se gabava. Mas era mesmo resultado da rua, de pó, de sol, de chuva rala, de grama solta, de taturana, algum pedregulho e muitas abelhas. Tinha cor do acaso, raiz pequena, folhas luzinhas e testura de Holanda. Era uma flor de se olhar, dessas sem vergonha e molhadas por tudo que é sereno. Que se dá pra mãe ou pro amor depois de um passeio distraído, sem nada de motivo de nada, só uma vontade moleca de agradar. Um jeito recém acordado de gostar, um instantinho malandro de ser flor, um cheiro de lua, um banho de riacho, um pedaço de sono, uma saudade de entrar, um enfeite, uma flor que era sozinha e que agora é só minha flor, todo santo dia, que começa de manhã. ***

Solaris

Imagem da Annette Meredith

Uma borboleta linda dessa numa florizinha de Verbena é quase uma canção, feita por um menino Deus que joga futebol de pés descalços. Claro, isso pode ser feito em dias de chuva e com direito a pisadas intencionais em poças d’água, o que é diversão garantida. Mas quando ele vem, é um convite sempre: esqueça as notas oficiais e brinque um pouco na rua. Cruze as pernas em cima de uma cadeira. Faça um coque. Vista um short. Tome um sorvete e aceite a visita do sol, esse Deus moleque que adora jogar futebol nos campos das flores amenas.

O carinho de hoje é como um solzinho, chega sutilmente. Enjoy!