
Acho o futebol o esporte que mais se aproxima da vida. Nem sei se a comparação é original, penso que não. Mas está tudo lá. As escolinhas de base se equivalem à maternidades. O primeiro jogo profissional é a entrada no mundo adulto. Os árbitros representam as leis. A bola é a a disputa em si. Mas tem o talentoso e o medíocre. O calmo e o violento. O malandro e o ingênuo. Os times são as personalidades. Algumas estão mais propensas (ou treinadas) a defender. Outras preferem atacar porque o ataque seria a melhor defesa, diz um ditado popular.
Goleiros são especialistas: chatos, mas necessários. A dinâmica do jogo é o símbolo das nuances dos dias, uns diferentes dos outros, mas todos sob o comando das rotinas. O tempo da partida é como a própria vida em seus limites, fronteiras e possibilidades. A estética dos jogadores é de gosto duvidoso. Alguma semelhança com o que vemos nos shows e shoppings? Tem as torcidas, um grupo nebuloso e que me dá medo. E tem o torcedor, um sujeito emocionante e passional.
Defesa, meio campo e ataque. Essas são as três funções básicas dos jogadores. Zagueiros lutam com atacantes, que tentam enganar os zagueiros e os dois grupos dependem dos meio campistas. Os atletas têm reservas, uma trupe de preparadores, médicos, massagistas, um exército de profissionais. Isso os grandes. Mas na maioria dos times, a favela do futebol, ali a fábrica de sonhos e a batalha pela sobrevivência convivem. Há quem observe os jogos, os narre, comente, os estatísticos. Técnicos são tipologias variadas. Avançados, teimosos, inovadores, retranqueiros. Dependendo dos resultados, serão tratados como deuses ou burros.
E tem gente como eu, que escreve sobre isso. Penso que tipo de jogador eu seria, de qual posição. Qual time faria oferta pelo meu passe, em que cidade, de qual país? A equipe seria de primeira divisão? Chegaria a campeã estadual, nacional, mundial? Seria um craque, um cabeça de bagre, um mais ou menos?
É um bom exercício. Pode ser estendido a emprego, modo de vida, desejos, relacionamentos, decisões, preferências e situações. Entre dois times, sempre torci pelo mais fraco. Mesmo quando envolve o Inter, aceito vencer mas não permito goleadas humilhantes. Acho que o meu Colorado reage em campo como eu me sinto durante a partida. Vou torcer pelos vermelhos até o fim dos meus dias, mas já fui mais fervoroso. O motivo está ligado aos resultados, que são pouco expressivos, mas isso é um problema menor. Estou começando a achar que a torcida não é prioridade do clube. Sem a paixão mobilizadora, sem o amor presente, um time continua sendo dono do seu coração? Continua, claro. Mas não estou conseguindo acreditar que ele, afinal, vença.