Sem palavras não fico. Não corro esse risco, tenho dito ao longo dos meus escritos. Vivo antes o que digito, duvido do que aponto, vou de ponto a ponto descrevendo minhas interrogações. Corro de frases prontas como o diabo foge da cruz, as deixo tontas, aplico vírgulas, dois tontos, não suporto exclamações, a não ser em situações como é gol do innnter!!!!!!! Tendo visto ou sonhado, depois é fácil, dou minha palavra ao que transcrevo ou traduzo. É só dizer o que ouço, contar o que houve, escrita é a vida com todas as letras. Morte é a palavra desencarnada, descrever é um modo de amar e a lembrança inscrita do que fomos, somos ou seremos é um jeito de perdoar. Perdeu? Escreva. Não é seu? Escreva. Doeu? Escreva. O registro é mais do que um alento, é a melhor arma quando o ressentimento cala fundo e se tropeça em pedras, tocos, saudade, desgosto, lembranças, rugas, rusgas, frios e lamentos. E se o sentimento for bom, escreva. Então te ocorrerá chocolate, fim de tarde, sucrilhos, terra molhada, o dia que nos encontramos, o que falamos, onde estivemos, as coisas que não fomos capazes. Jogue limpo com as palavras, elas são lavras, resistirão ao sol, ao frio, ao fim e ao infinito. Servem para anunciar ao mundo que é por você que tudo foi escrito.