Não me libertem desse governo, nem de nenhum outro. Não lutem por mim, não marchem em meu nome, não me usem, não seremos amigos. Nem conhecidos, nem haverá risco de erro de afirmarem a meu respeito que desprezo seus métodos e metáforas, os acho grotescos, escusos, secos. Por outro lado, não os mataria, mesmo sem querer, mesmo tendo advogados e seus discursos ensaiados, mesmo possuindo causas aflitas, motivos justos, mesmo assim, não lutem por mim, peço. Não coloquem cartazes, nem vistam camisetas com imagens do Amarildo, o mesmo Amarildo que vocês -tivessem real oportunidade- acorrentariam a um poste. Dispenso as máscaras, abro mão de toda e qualquer vantagem nascida desse argumento libertador, não subam em minhas costas para chegar a um poder que os fascina a ponto de se desfigurar a obra para que ela tenha suas imagens, seus gestos e suas formas. Toda vez que gritam, me ensurdecem e deixo de ouvir as canções do Nico, do Herbert, do Chico, as canções que gosto. Toda vez que se reúnem, demoro a passar e perco um tempo precioso aos amores raros, às lembranças boas, bons abraços, um momento de descanso dos meus cansaços, que são tantos e que doem mais à medida em que me perco na tentativa inútil de entendê-los. Os nomes que reconheço como a primeira maravilha do mundo? Betinho e sua insaciável luta por milhões de pratos. Este serviu à vida, mesmo sabendo que em breve, a sua estaria desaparecida. Ele morreria, é fato, mas sem o fardo de não ter feito nada diante da falta de arroz, feijão e um bom samba de madrugada. É hora de lembrar de Frei Beto, São Francisco de Assis e seu método revolucionário que era fazer o bem, de transformar o bem em caminho, de não se apropriar do bem, além de falar com passarinhos. À benção Chico Xavier e sua vontade impressionante de aproximar os que estão distantes.Hoje morreu um trabalhador morreu em plena lida. Morreu entre desconhecidos. Morreu entre desaparecidos. Morreu entre os que verdadeiramente devem ser esquecidos.
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Não me representam
Estão presos, alguns deles. Alguns daqueles que pediram à esperança que vencesse o medo. Tinham segredos entre eles, como diria Caetano em seus podres poderes. Alguns choram pela falta que farão, eu imploro que não façam falta, que possamos esquece-los, não prisioneiros políticos auto intitulados, mas ladrões de galinhas e o pior tipo de meliante que existe, o dos sonhos roubados. Das coisas tristes que fizeram. Dos risos que sepultaram. Das ameaçam que os mantiveram altivos, mesmo que mortos-vivos, o que mais quero é esquece-los, seja qual for a prisão que os condene ou não. Estão lá, ainda sem entender muito o que se passa, é a história fazendo daquelas biografias a sua própria traça. Me olhem nos olhos e lhes digo: a condenação é maior do que pensam. Quem merece prisão é bandido. O que cada um de vocês terá é a derrota amarga e diária de ser esquecido.