Uma paisagem permanente, aceita? Você me deu a alma Enluarada, me parece boa troca, ainda que jamais possam (ou precisem) serem coisas comparáveis. Gestos amáveis, topa? Você me restituiu tanta coisa. O rio, o riso, as histórias contadas. As risadas, quantas! Quanto aos choros, bem, eles existem e sim, são tristes. Mas amor é água, contorna, submerge e vence, não tem obstáculo, esse é o teu espetáculo, amada. Depois, hoje é dia de presentes com significado. Achei que você iria gostar disso e sorrir. E se te faço sorrir, o dia está ganho.
Começo te dando um abraço interesseiro, inteiramente dedicado a te tocar o espírito e (por que não?) arrepiar a nuca. Me trouxeste uma primavera inteira, intocada e infinita, alma que amo. Entenda, um abraço é quase nada. Mesmo que seja desses sem hora de desabraço, desses que quanto mais apertado, mais se torna espaço de conversa, suspiro, entendimento e calmaria. Acho que você precisa de um tanto de tolice, um bilhete bobo no espelho, um boliche, quem sabe fazermos juntos uma boa salada verde, deixa eu te ver vivendo, reserva um tempo conjunto para ouvirmos Valsinha do Chico. Vamos na esquina à pé e sem pressa. Vou vir te contar que hoje tem sol, és tão solar. Mas se faça um favor: não deixe tanto tudo girar em torno do teu calor, podemos nos virar sozinhos, nos fará até bem. Seja teu espaço, proteja tua galáxia, não vá a lugar nenhum longe de si mesma, se acompanhe, mãos dadas contigo. Pensei num café. E quem sabe tu me mostras o que te passa na vista e o que pensa enquanto o que olhas te alcança, enquanto engoles o quentinho que é viver.
Me darás de presente a contação de como foi teu dia. Não só vou perguntar, como vou querer saber, é um jeito de fazer parte. Quando te pergunto como vai é porque desejo saber como, não onde enxergas o que deseja. Porque isso, o desejado, qualquer que seja ele, chegará ou não. Entende como o como é importante? Como vais? E enquanto vais, como te sentes? O que te assenta, o que te acende, o que acontece quando anoitece e a a lua chega? Te dei meus medos, me dá tua companhia. Divido salmão e sonhos contigo, perco quilos e mais quilos, o tempo às vezes dói, noutras balança a rede das lembranças.
Me preparo para ir longe, havia até a pouco um mar lindo, revolto. Me descubro protegido de Yemanjá, logo eu, um comunista imaginário. Hoje é dia de ausências, de impossibilidades também, como o teu colo onde dormiria serenado. Me deste muito disso de presente. Então te abro uma caixa mística, uma canção Celta, deixo a porta aberta e crio uma cantiga de ninar: você descansando em mim, que emoção no sempre que construimos em confiança no que sentimos. Então tudo bem de trocamos olhares? Sim, desses que ficam um segundo a mais, absortos, soltos um refletindo o outro. Um afeto fundo, um afago pedido, um te sinto e isso faz todo sentido? Lembra que te dei meus olhos pra tomares conta. E agora tu me contas como partir. És tão presente em mim que pedi que Renato cantasse pra ti:
O significado é o tempo dedicado. Ao rumo, ao ritmos, às melodias que nos reconhecem, ao suave que nos convida, a saudade que afaga, talvez não hajam respostas prontas. Quem sabe elas, as respostas, estejam se aprontando no ir e vir que parimos, no instante único que encontramos para trocar o amor que sentimos.
Feliz Natal, sempre feliz Natal.