sub 13

Mantenha ao alcance da tua criança, aquele piá no canto da foto, segure sua mão enquando ele treme, vai acontecer às vezes. Abrace a prendinha que vive no passado lá longe, isso faz milagres, traz sorrisos, acalma como bilhetes no bolso dizendo que vai dar tudo certo.

Invente uma surpresa besta, uma festa fora de hora, algo que reviva a infância que mora em você e ilumine a brincadeira de roda. Esqueça a hora. Tenha um amigo com nome esquisito, um bonito, todos legais. Depois, puxe conversa com árvores, toque campainhas e saia correndo, se precisar diga “eu lamento”, se puder, declare o amor. Se você não fizer, quem vai fazer? Se você não disser, como saber? Lembre da sua primeira bicicleta, a hora em que conheceu como era o dia de noite, o nome do seu primeiro cachorro.

Anote, relembre, toque o consistente do amor, converse sem condiciontes, sem atenciosamente, sem ilmo senhor, sem meu prezado, sem carinhas tristes, alegres, inexpressantes. Seja o instante exato em que a alegria sobe porque o telefone toca e é quem você quer, espera ou precisa.

Suavize. Deslize. Flutue. Traga sua criança para a beirinha do feliz, então escorregue, se jogue e cumprimente tudo que te trouxe até aqui.

O entorno nos torna?

mariel fernandes.entorno

Relembro da chegada, a festa do reconhecimento, a saída para a estratosfera.Tudo era espaço, um grande passo para a humanidade, o início do espanto e o fim da espera. Revejo a alma enluarada, as esperanças estreladas, as mãos bailarinas. Tudo era espaço, abraços feitos de eternidade, a noite e seu misterioso manto, o infinito descansando no seu canto mais bonito. Refaço o caminho de volta, o ar me falta, a gravidade é zero, vejo os mapas e planos de voos. Tudo era espaço e mistura, curiosidade, portais sobre o sempre, e sobre o nunca mais. Resisti aos ventos das tempestades, ao rugir das saudades, aos silenciosos dias das névoas, à terra dos corpos andantes. Tudo foi para o espaço tortuoso onde a existência passa, onde o tempo desespera e onde o coração se desencontra da primavera. Retirado dos escombros, reaprendo os passos, tremo ainda, mas a vida já não se retira. Algo em mim respira, ainda que caminhe lento. Tudo agora é espaço, sereno e denso que troca, que toca, que bomba. Um tempo de águas. Um tempo de sombras. Um tempo que sobra, o destemperado tempo que faz de si mesmo sua melhor obra.