Não tem jeito, um texto reflete. Pula de alegria com as vindas de quem ama. Se atordoa com suas partidas, descreve o amor que sente. Mostra que se ressente do afeto distante, da presença faltante. Das falas, passeios, toques, surpresas, passagens de tempo, encontros e seus conexos. Nunca entendi que a felicidade seja algo de acesso pedregulhoso, exigindo um arco só possível a eleitos, heróis, seres especiais. De onde vejo, isso sim é coisa de filme. Eu sei que você concorda porque age assim nãomandando para o exílio gestos carinhos, afetos cotidianos, planos, conversas, pequenas proteções, grandes surpresas, fazer a sobremesa preferida, comprar uma lapiseira para quem você quer escrever uma história que possa ser renovada. Nos acostumamos tanto com Hollywood fazemos da vida real não um lugar que moldamos, criamos e construímos à nossa imagem e semelhança, mas um espaço que decoramos, memorizamos textos e rimos às sextas. Sabe o que significa quando digo te amo? Que sinto te amo. Que me melhora te amo. Que me agrada te amo. Que me faz falta te amo. Que confio te amo. Te amo é um signo que abre portas e portais, janelas, novas perspectivas, acalma angústias e se compromete, além de fazer bem para a pele. Te amo é prático, enfático, liberta. Toma remédio, faz exercício, cuida, ouve Bob Dylan e vive o te amo da maneira mais feliz que consegue. Fica triste? Fica triste. Vai embora? Acontece. Mas não parte. Está ali, de algum jeito faz do afeto algo efetivo, assertivo, que chega e toca toda vez que vem. Chega e toca toda vez que fala. Chega e toca toda vez que conta. Chega e toca toda vez, cada vez e sempre. Não é entendimento contínuo, mas a contínua busca pelo espaço comum arejado, onde o outro não deixa de ser o outro por conta de nada e de ninguém, ainda bem por isso. É a vida real do tipo levinha, com alminha serena. Vou ver um filme hoje. Um que tenha passagem de tempo que sempre nos encanta. Com filosofia, que me encanta. Com a vida como ela é, que te encanta. Um onde a trilha seja protagonista, provando que o artista faz para a existência, ainda que isso cause em mim um ciúme dos brabos. Ainda atordoado? Bah em doses sartreanas. Mas somos capazes de nos fortalecer, de nos importar nos amando e protegendo de um modo criativo. De qualquer jeito, concordo em número, gênero e grau: somos melhores ao vivo.