Tem que ser puro

E fomos felizes para o sempre

A vida é rock ou viola caipira? 
Alguém me perguntou isso, depois de ler uma das conversas que posto por aqui. De pronto, percebi que esse é um questionamento de porte. Senti uma certa dúvida, tipo cansaço nível F6 na pergunta, não sei bem. Normalmente, Platão me ajuda com nesse tipo de situação, mas não foi o caso. Aristóteles fala demais e sempre acaba provando que a gente é uma besta, o que procuro são respostas para o que não sei. Descartes e Kant são bem cheios de grandes opiniões, mas foi o bom e velho Nietzsche que me veio com essa:

E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música”. 

Possivelmente ele queria dizer algo mais complexto, como “cada um sabe onde aperta o calo”. Eu creio que se refere à nossa pouca empatia uns com os outros, esse cacoete hipócrita que nos faz acreditar que faríamos mais e melhor do que qualquer um, como se quem observamos fosse um qualquer, tudo mundo é muito bom naquilo que não viveu. Diariamente e há anos me lembro que não há nem bom nem ruim, nem melhor ou pior, apenas circunstâncias e algumas escolhas. O filósofo, que de bobo tinha nada, também era poeta, músico e estava um pouco lelé antes de ir verificar pessoalmente a existência de Deus. A mulher que amou, não o correspondeu, o que pode ter inspirado frases como essa: 

aquele que tem um porquê para viver pode suportar quase qualquer como”.

Foi o caso dele, acredite. Os sensíveis, quem procura motivadores para uma humanidade mais bela e menos fera, os estéticos e os estetas ficam pouco à vontade no mundo. Isso não os dispensa em habita-lo, de fazer dele um lugar mais turístico ou de evitar vícios difíceis de abandonar, como o sertanejo universitário. Em outra encarnação cunhei a expressão “clube dos perfeitos”, sobre uma gente capaz de julgar num trink qualquer coisa, tendo opiniões e solução para os desprovidos do mesmo talento e, portanto, impedidos de frequentar tal agremiação. Dependendo do caso, de respirar o mesmo ar. De habitar o mesmo país. De viver o seu amor. De “tornar-se o que se é”, como afirmou Nietzsche. Fico pensando se Deus nos dissesse algo como “seja feita a sua vontade”, o que faríamos? Loteria uma vez por semana? Corpo do Brad Pit? Cura da gripe? Abel treinando o Inter? E se todos os nossos desejos fossem atendidos assim na terra como no céu, seria bom? Se houvesse possibilidade da vida ser sempre 2+2, o resultado sempre seria previsível, sem escalas de cinza, sem gradiência ou sujeito à chuvas e trovoadas no decorrer do período? Não sei, mas a cada um o seu cada qual, diz um ditado mineiro.

Há 3 dias estou naqueles estados lastimáveis que só nós, os homens, somos capazes de ficar. Cama, cara de triste, um ohhhh constante, seguido de gemedeira geral. É uma das 7 pragas do Egito (homens, homens), mas vai passar, assim como o Bolsonaro. Entre comprimidos e água de côco, relembro Quintana na mesa de costurar onde escrevo (tuc, tuc, tuc, tuc). Ele e seu eterno “vocês que atrapalham meu caminho, vocês passarão, eu passarinho”. Ter ficado amuado me tirou a bike por uns dias, mas me trouxe o poetinha gaúcho, não é má troca. Gosto de pensar que se escolhemos o amor, algo nos anima, embeleza ou eterniza. Então viver é puro rock, magnifico, universal, potente. Produz quadros, boa poesia, tricota, olha e te vê. Como Clapton, é possível ficar um pouco surdo, mas não é má troca: ele namorou a Carla Bruni-Sarkozy, gente. Chego hoje ao meu post 200 e é uma delícia ter a honra de receber mais de 15 mil conversas, curtidas e compartilhamentos. Profissionalmente, faço o que gosto e pessoalmente vivo enquanto espero. Imagino que estamos constantemente no caminho, na busca, tateando. Não há linhas retas, nem bússolas certeiras em período integral. É preciso resolver coisas e as coisas têm sua própria agenda. Então existirão as horas de apreciar o gosto das matas e das maçãs, como aquela música ensina. O importante é estar em paz com aquilo que se ama e com tudo que isso inspira. Então tanto faz ser rock ou viola caipira.